Carnes. Bem, meus amigos, não há nenhum amigo, também não há carnes santas. Os frangos engordados a antibióticos, os porcos cevados em hormonas, os vitelos que pedem pitança à farinha rançosa. Tão longe que estamos da fórmula de Arzak, que chamava frutos do campo à bela bicheza.
Não haverá coisa menos susceptível de prender o leitor do que a carne assada ( a menos que queira ser primeiro-ministro) , mas asseguro que, depois de uma costeleta de vitela arouquesa tostada nas ladelas e com o meio vermelhão a receber as lágrimas da gordura amarela, a minha carne assada é o segundo céu em dias invernosos. Ela cabe nesta série porque poupa e aconchega. Ora vamos aos açougues:
Uma peça de três quilos , no mínimo. Pojadouro, rabadilha. Mais barato não há. Evitar o peito lusitano ( em França, por exemplo, já se pode usar). Afoguem-na de véspera num alguidar raso de água enjoada de louro, pimenta em grão, um limão, um cravinho, sal, uma cebola, alho à Benfica e um dedal de vinho branco. Amaciar a senhora, ou seja, como às verdadeiras, deixá-la falar , dar-lhe tempo para que ela se entregue até aos últimos nervos.
No dia seguinte ( isto deve ser feito aos domingos) tirar a peça, secá-la, barrá-la com azeite, alho, colorau e alho. Deitá-la no tabuleiro e rodeá-la de cenourinhas, um alho francês segado com violência e cebolas ( das novas que ainda aí andam e são mais doces e mais baratas nas feiras respectivas). Estes permeios darão molho, vapores relaxantes e aromas terciários. Uns graõs de mostarda, uma noz de manteiga e meio copo de cerveja nas costas da peça, para fazer a ponte com os Bruddenbrook. Forno lento durante quatro horas, regando sempre, mexendo pouco, distraindo nunca ( com licença do grande Fialho).
No domingo ao jantar come o pai, a mãe, os filhos e o coloneus, se bater à porta, porque será bem vindo.Vantagem: lá para terça-feira nova rodada e no final da semana ainda sobrou para um almoço de sanduíches.
FNV
epá, não havia necessidade de pores o til dos grãos tão à frente, assim até parece nouvelle cousine
pois é.
Boa tarde Filipe e algumas notas/perguntas não culinárias:
1ª – Se quiser ser 1º ministro não posso fazer/comer a sua receita?
2ª- A cerveja tem de ser alemã, para ligar com os Bruddenbrook?
E agora as culinárias:
– vou arriscar fazer a receita;
– já pensou lançar um livro das suas receitas?
Abraço
oras… é tão simples.
Livro? credo.
abraço tipo Xistrado
“Amaciar a senhora, ou seja, como às verdadeiras, deixá-la falar , dar-lhe tempo para que ela se entregue até aos últimos nervos.”
Diga lá…ocorreu-lhe que eu comentasse esta frase?
A receita gostei. Culinária parece poesia e aconchega ler.
filipe, tás em forma. grande abraço, que vou experimentar a coisa. depois te direi dos resultados
graned e (culpado…) abraço , Zé