Doces domingos.

1. Na Madeira, o primeiro-ministro revelou-nos que os se queixam mais da austeridade são os que estão melhor. Supondo que Passos Coelho não se referia ao estado de saúde dos portugueses, podemos deduzir que os focos de insurreição contra o Governo provêm dos mais ricos, dos mais educados, dos mais urbanos e dos mais informados. O que talvez deixe a sua base de apoio reduzida aos pobres, analfabetos, campónios e alienados. Isto surpreende imenso.

2. Por falar em base de apoio, vale a pena conhecer a investida de João Vilalobos no Forte Apache contra o ordenamento das esplanadas lisboetas liderado por José Sá Fernandes. Indignai-vos alfacinhas: parece que a nossa autarquia não deseja cadeiras de plástico nem tapa-ventos na rua Augusta. Numa manobra vil e homicida, a vereação espera obsequiar os turistas com esplanadas de boa qualidade, limpas, com mobiliário decente, sem fancaria. O João Vilalobos está contra e invoca a tempestade perfeita que atravessa o sector da restauração para nos recomendar o apedrejamento de António Costa. Como é evidente. Afinal, de onde veio a tempestade perfeita?  Da câmara. Quem aumentou o IVA? A câmara. Quem provocou milhares de falências? A câmara. Quem deve ser penalizado? A câmara, em suma.

Luis M. Jorge

6 thoughts on “Doces domingos.

  1. Arlindo Queijo diz:

    Quando ouvi o Paços Cuelho dizer isto: “não quero alinhar na demagogia e no populismo que nos trouxeram até aqui”, lembrei-me logo disto:

  2. João. diz:

    O mais significativo para mim foi a tirada de Passos sobre a despreocupação com a impopularidade. Pode indicar que temos um PM numa espécie de missão suicida. O problema é que ao que sei o mandato para que foi eleito não inclui uma missão suicida – enfim, uma em que arraste o país consigo.

  3. Obrigado pelo link, Luís. Percebo o ponto mas em lugar algum eu disse que a culpa da tempestade perfeita era da Câmara. Disse sim que a decisão da CML era a “cereja no topo do bolo” para penalizar o sector. E não escrevi o que escrevi como manobra de diversão de nada, se bem entendo o remoque deste texto. Abraço

  4. caramelo diz:

    “pobres, analfabetos, campónios e alienados”, tudo junto e internados em salas almofadadas à prova de som e sem rede.
    Faz-me sempre muita impressão um governante que diz não se preocupar com a popularidade. Mas percebo-o, o homem troca bem mais uma eleição nesta piolheira por um lugar nos manuais de história da Alemanha e Finlândia e outros países que prezam a grandeza austera, como um grande estadista europeu. Já gozam como homem por causa de Massamá, calculo que não queira ficar como o Toni Carreira, a encher arraiais populares no seu pais e comunidades de emigrantes, para o resto da vida. Não ganhar mais uma eleição, apenas o poupa a quatro anos de chatices, sem grande compensação económica. Ganha o resto da vida a fazer tours pagos a peso de ouro, nos circos da Europa do norte, como o homem do sul com alma de viking.
    Sobre as esplanadas do Costa, nada a declarar. Faz-me é impressão aquela outra regra de limitar o acesso ao centro pela idade do carro. Não é que eu me atreva alguma vez a entrar de carrinho na avenida da liberdade (já tentei uma vez e fui parar não sei onde, por não sei onde, saindo dali não sei como, com não sei quem a apitar atrás de mim) mas acho que os lisboetas mais pobres e os que têm ferraris vintage deviam unir-se e fazer um desfile de protesto.

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