Estes jovens bué empreendedores eram tão pobres como o meu amigo. O magro estipêndio que recebiam dos cotas mal chegava para os medicamentos. Muitas vezes sacrificavam os longos passeios dominicais, as horas de conversa amena nas primeiras filas da rodoviária, porque não tinham dinheiro para o passe social. Quando iam para as urgências dos hospitais públicos, em busca de aventura e calor humano, calcorreavam trinta quilómetros de penedos íngremes em invernos inclementes. Não nos é fácil descrever a ansiedade com que o pequeno Bernardo e o pequeno Martim preenchiam o totobola, contando repetidamente as cruzinhas por temerem incorrer numa aposta múltipla que os condenaria ao opróbrio da penúria envergonhada no quiosque da Mizete. Com trezentos euros por mês, também eles não jantavam: rezavam o terço e viam a TVI. Em suma, senhor reformado, estes jovens eram tal e qual como você.
Mas nem por isso baixaram os braços. Nem por isso atiraram a toalha ao chão. Graças ao Blasfémias e ao Insurgente compreenderam o valor da responsabilidade individual. Em vez se quedarem numa dependência abjecta, invocando “direitos adquiridos” para dissipar os impostos de quem trabalha, eles tiveram a coragem de sonhar — e desse sonho retiraram um projecto vencedor, que contribui para o incremento das nossas exportações.
Tal como fizeram o Martim e o Bernardo, dois meninos pobres de Cascais, também está ao seu alcance, senhor reformado, tomar o destino nas próprias mãos. O corte das pensões pode ser uma oportunidade para sonhar, para investir, para desenvolver projectos, criar riqueza e conquistar uma vida melhor. Não lamente a sua nova liberdade: celebre como nós o término das grilhetas, o fim do jugo vitalício do estado social. E se, num momento de fraqueza, sentir a alma divagar com nostalgia pelos anos de horror e desperdício que agora se extinguem, pense nas alegrias do futuro. Get over it.
Luis M. Jorge
esselente.
Devo tudo ao SLB.
that’s my boy.
Ou “over it” (sonhos).
ahahah … Ámen.
Acha que eles percebem? Ou blasfemam por desporto? De qualquer modo… ahahah!
Caro Luís, a minh’alma benfiquista está pasmada: trata-se de “emprendorismo” à moda do canadense Alvarinho ou “coadoção” segundo a libertária Isabel Moreira?
Grande! E é uma oportunidade para o senhor pensionista curtir com miúdas bué giras.
Realmente está um must. Ganda tiro,pimba…hehehehehh.
Os queridos leitores mimam-me.
Depois deste post, Luís, não me resta outra alternativa que não votar em si para Presidente do Mundo.
Vou dar uma palavrinha ao Menezes e o deputado Amorim, por causa do financiamento.
Eu arranjo umas camisolas para a campanha, até já falei a uns garotos para desenharem as letras e distribuirem, mas depois quero fazer parte do conselho de estado.
Sim, vamos falar de Portugal pós-apocalipse.
Ya, tipo Mad Max. E reunimo-nos em subterrâneos e comandamos a revolta contra os super-ratos, com arco e flecha, coisa assim. Pra pouca saúde, mais vale nenhuma, lá diz o povo.
Caro Luís: let me ask… onde está “reformado”, também podia (e devia?) estar “desempregado” e “funcionário público”, verdade? Porque me parece tudo gente que pertence ao grupo do “não arrisca” e “não se mexe”.
Podia, mas o futuro de um reformado pareceu-me mais inspirador.
É verdade!
Boa ideia, vamos todos vender camisolas para a feira de carcavelos. Pensando bem será que haverá gente para tanta camisola??
Bem eu acho que já tenho para ai uns quinhentos amigos no facebook, já são quinhentas camisolas e posso faser uns calções que sempre levam menos tecido que as calças, sempre poupava uns trocos.
T-shirts tom a tara do tavato é que está a dar. (destulpem, o meu tetlado tá sem sê.)
Tá destulpada.