Monthly Archives: Outubro 2013

O efeito de Coriolis

A bigbrotherização de um caso de alegada violência doméstica pode beneficiar a causa das mulheres espancadas? Não.

Walter Benjamin conta a história de um padre, acusado de comportamento imoral, que foi conduzido pelas ruas de Nápoles em cima de uma carroça. As pessoas seguiam-no e iam soltando imprecações. Numa dada esquina encontram  um cortejo nupcial. O padre levanta-se e abençoa-os –  todos os os que o seguiam caem de joelhos.

Os resíduos de pólvora das vinganças, os detalhes sórdidos e a conflitualidade das versões são elementos que acabam por conferir à peça um carácter de diversão. A história de Benjamin mostra como é possível destacar a película do contéudo. Na bigrotherização da violência doméstica todos caímos de joelhos.

FNV

Pegando a moda e depois com os novos retornados angolanos

Nick Clegg was asked about the Daily Express crusade today

Talvez deixem ( os amigos do povo) de   me chatear os chavelhos com o problema da emigração.

FNV

Contratempo ( XXVIII)

Do Correio da Manhã, hoje, página 40: ” As aparições de Cristo têm, aliás, sido uma constante nos últimos anos desde que a internet possibilitou a troca rápida de textos e fotografias”.

Ora bem: Ama todas as palavras fraudulentas, ó língua devoradora ( Salmos 4:52).

Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta.
Salmos 52:4
Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta
Salmos 52:4

FNV

 

A prova dos professores, versão B

teachers-cant-teach
Anteontem, nas jornadas parlamentares da maioria, Nuno Crato voltou à carga com a prova de Português e Matemática para os docentes do 1º Ciclo. Só que agora, em vez de uma prova no fim da licenciatura, Crato promete outra à entrada da licenciatura – que mais não é, se bem percebo, que o respectivo exame do 12º ano. Ou seja, os sindicatos e os politécnicos, que tanto protestaram contra a “prova de avaliação dos conhecimentos” dos candidatos à docência, confrontam-se agora com uma prova de acesso à própria licenciatura, sem muitos argumentos para a contrariar.
Como jogada política, marca pontos. Mas temo que o essencial da anterior proposta (a maior exigência na formação dos professores do 1º Ciclo) se perca com a transferência do ónus da prova para os exames do 12º ano e, poratnto, para o ensino secundário.
É pena. A formação dos professores é absolutamente vital para um ensino de qualidade. E os sindicatos e os politécnicos não podem defender os seus interesses corporativos à custa do bem comum. Quem não deve, não teme. Se a formação dos cursos de Educação Básica é boa, se os candidatos a professores do 1º Ciclo são bons, nada justifica que recusem a prova de avaliação de conhecimentos no fim da licenciatura.
Estou à vontade: sou professor num curso de Educação Básica. Uma limitação às saídas profisionais dos meus alunos pode diminuir a procura do curso em que lecciono. Mas também sei, oh se sei, que alguns deles não têm competência para ensinar língua portuguesa nem sequer ao 1º Ciclo. E imagino o resto. Porque é um erro trágico acreditar que qualquer pessoa, só porque tem uma licenciatura, pode ensinar Português e Matemática, mesmo a um nível elementar. Como não me canso de repetir a alunos e colegas. O que está em jogo é demasiado sério para cálculos paroquiais. Crato pôs o dedo na ferida – e fez bem. Resta saber se tem o remédio.

PP

Preenche o nome no epitáfio

—————–: “Il a suscité les plus grands désordres dans l’état sans avoir un dessein formé de s’en prévaloir.

( La Rochefoucauld, sobre o Cardeal de Retz)

FNV

Reflexos

Por causa de uma simples  tentativa de civilizar  o chiqueiro, Fernando Alves  já ironiza que qualquer dia serão limitados os números de filhos que cada casal, por causa da crise, poder ter,  ou de netos que os  avós podem acolher.

Até eu, que tenho lançado aqui o anátema – pagaremos  com língua de palmo  a nula exigência para com as  críticas à governação -, me surpreendo com a velocidade da decomposição.

FNV

Viva Assunção Cristas

Apoiado. Apoiadíssimo.Peca por defeito.

Se os portugueses soubessem treinar e educar cães, no problema. Acontece  que  se os filhos são o que são, imaginem os cães.

No meu prédio  há uma demente que tem dos canitos fechados  numa marquise minúscula. Ladram das 08.00h à meia -noite  ( horário permitido, que isto das burocracias é para levar a sério). Uns vizinhos andavam  a peticionar contra  e foram bater-me à porta. Disse-lhes que tinha cão. Eram de outro bloco e não sabiam. Pois não – disse eu –nunca ouviram  a minha boxer, pois não?

FNV

“Não vejo ninguém apático”

Esta observação de um comentador aqui no D&Q abre  a corrida. Foi uma réplica a uma outra observação, igual a tantas outras, produto do desalento por não se ver por cá o protesto a sério: motins, presidenticídios  e ministricídios ( já alvitrados por Soares ), saques ao Jerónimo Martins etc.

É verdade o que César das Neves aqui diz: existe um abismo entre o incitamento  ao caos y revolução feito  pela  esquerda mediática ( a que exclui o PCP e  a ala segurista do PS) e  a realidade,  por isso o povo passa a ser albardado de apático, bronco, atrasado, conformista, etc. Nada de novo nesse sector: o povo só é  activo e inteligente  quando concorda com os sábios ( lembrem-se dos referendo ao aborto: o povo era grunho quando votou não, passou a  magnífico quando votou sim)

Acontece  que César das Neves  também calcula mal. O povo não está  a escaqueirar tudo por entender que este é o caminho correcto. Esta confusão, muito ancien régime-Opus Dei, é  recorrente, quase refogando a ironia de Kraus: o martírio é a única coisa aproveitável num ideal.  O cálculo está errado porque as pessoas não estão ordeiras,  as pessoas estão é a lutar para sobreviver,  apesar das asneiras dos governos  anteriores e destes ( o nacional e o europeu).

Se há um ar do tempo,  ele respira-se no sentimento de orfandade. Os partidos, os governos e  as instituições do Estado fizeram com que as pessoas tenham de se  desenvencilhar sozinhas.

FNV

Lou Reed (1942-2013)

Lou%20Reed
Hey babe, take a walk on the other side

PP

Para génios, desta vez indiscretos

Este governo é neoliberal-furioso e quer implementar medidas en concordance. Este governo afronta o TC  com medidas neoliberais a chumbar e, assim , ter um pretexto para se demitir, entregando o governo a Seguro, que irá aplicar medidas não furiosamente liberais.

FNV

Alianças do PCP com os governistas da direita

O que tem de ser tem muita força.

Não? Ah…pois…deve ser outra vez o micoclima. A direita  governista em  Loures é menos governista e menos  direitista do que a normal. Tem mais pintinhas.

FNV

Deve ser parecida com a nova cultura política de Poiares Maduro

Leio no Expresso que Pedro Rodrigues, ex-líder da JSD que deixou o lugar de chefe de gabinete de Poiares Maduro, está a criar “uma primeira fractura” dentro do partido. Parece que vai disputar  a liderança da distrital de Lisboa ao candidato do sistema: “Reestruturação da forma de fazer política, à altura da história do PSD”.

Muito bem. E quem está com Rodrigues nesta “nova forma de fazer política”? Pessoas  como , por exemplo, João de Deus Pinheiro e Rui Gomes da Silva.

Isto de não querer saber quem está connosco nas trincheiras  obriga a várias cargas de máquina, não é?

FNV

Ansiedad

Um quizz e umas notas.( actualizadas)  No Depressão Colectiva.

FNV

Metamorfose

Em Castelo Branco não houve gente para  a manif Que se Lixe a Troika, por causa do medo. Em Coimbra não houve medo, em Faro ( 50 pessoas) algum medo, em Lisboa ( 15.000) nenhum medo.

É o que eu digo: a forma como acarinhamos qualquer imbecilidade se  dirigida ao actual governo e sua política, mesmo as que são puro  cálculo político, está  transformar-nos em imbecis.

FNV

À letra

( fonte: Record)

FNV

Vá lá, saiam do séc.XIX

Hoje, no Pavilhão Atlântico,  7.500 pessoas no concerto de Liliane Marise. Em Faro, na manif. Que se  Lixe  a Troika,  cinquenta.

FNV

El negro, o niegro de mierda e a raiz

O caso de Yaya Touré é o mais recente. O público , ou uma parte do público, afecto à equipa da casa mima um jogador negro da equipa adversária com sons  a imitar macacos ( ou atira casacas de bananas). Duas coisas me interessaram sempre neste assunto:

a) Por que motivo , muitas vezes, a assistência se junta à atitude de um pequeno grupo provocador,

b) Como reagem os negros que estão em campo  a jogar pela equipa  cujos adeptos humilham os  colegas da equipa adversária.

A primeira questão tem duas leituras. A tradicional, da psicologia de massas e o seu efeito de contágio, e a freudiana: não somos contagiados por nada, apenas nos  sentimos  livres  para exprimir o que sentimos num  contexto de anonimato e impunidade. Prefiro, é claro,  a segunda.

A segunda é mais dicey. A ambiguidade e a sinalização do comportamento como excepional ( bem como  a mais prosaica necessidade  de ganhar a vida) podem explicar por que motivo os jogadores negros da equipa da casa não se sentem também eles epitomizados como macacos. A ambiguidade é recordada aqui ( recordem o caso com Aragonez). Para os culés de Barcelona, o seu Eto’o era El Negro, uma apreciação positiva  e apaixonada ( dizem). A outra face da ambiguidade ( os macacos são os outros pretos, os da equipa adversária) é que  é o diabo…

Anwar Malek  chamava-lhe  a hegemonia das minorias instaladas, Edward Said falava de  um etnocentrismo ao limite. Ou seja, a participação no insulto racista e a complacência dos negros, assalariados do clube cujos adeptos insultam outros negros,  são elementos comuns aos conceitos  de Malek e Said:  o negro é exterior à  história cultural do espectáculo enquanto seu produtor, mas também, e sobretudo, seu  consumidor. Nomear, diferenciar ( até o El Negro) é uma faculdade do poder. Pudessem os  colegas, negros,  de profissão do jogador insultado ter lido Fanon : The negro is not. Any more than  the white man.

Tinha o meu mais velho uns cinco ou seis anos quando o ensinei , com pedagogia, a ver as coisas. Estávamos a ver um Académica x Penafiel quando o estádio quase todo começa  a imitar um macaco de cada vez que o N’Doye ( do Penafiel) tocava na bola. Por acaso esse mesmo N’Doye veio para Coimbra,  onde jogou que se fartou e não recebeu bananas. A certa altura  reparei que o garoto  tambem grunhia. Dei-lhe um calduço seco e curto na parte de trás da cabeça, expliquei-lhe  que aquilo não se fazia (tal como não se come com as mãos) e perguntei-lhe se também ia grunhir quando os negros da Académica tocassem na bola. Remédio santo, a pedagogia funciona sempre.

FNV

Quem sabe, sabe

O lip service  gauche-LGBT do costume,  disfarçado de programa de humor, mas o mais giro, e profissional, foi a ferroada  final a António Costa: não só teve o desplante de ter faltado  à liturgia como parece ser um obstáculo à entronização.

FNV

A Zelig de Valpaços

Fabulosa Assunção Esteves. Vejam lá que a figura entende que Januário Torgal Ferreira diz  a verdade sobre o poder.

Bem, não é qualquer um que ascende ao TC apenas com uma licenciatura e  um título de campeão regional  de basquetebol, mas  acrescentar o dom camaleónico é obra.

FNV

Da série “O som e a fúria”

Diz Vasco Pulido Valente no Público de hoje: “O extraordinário não é que Sócrates se leve a sério, o extraordinário é que o levem a sério. Mas claro que o “lançamento” não foi de um livro.”
Concordo e discordo. Concordo que só num país sem oposição o lançamento de uma tese de Mestrado, e escrita em seis meses, provoca tal frisson. Sobretudo ao PS. Porque, aos “filhos da mãe da direita”, a reaparição socrática dá um jeitaço: é o permanente espectro do Natal passado. Já repararam que nos últimos dias deixámos de falar no OGE de 2014, tão-só a questão política decisiva da actualidade nacional? E nós a discutir se o animal feroz quer, ou não, voltar a “depender do favor do povo”.
Mas discordo que o lançamento do livro seja mais do que isso. Traído, ressentido, corrido em eleições, Sócrates limita-se a mostrar ao mundo, e à tribo socialista em especial, que ainda consegue reunir à sua volta uma procissão de devotos, encabeçados por El-Rei Mário I e Sua Santidade Lula da Silva, a implorar que nos conceda de novo a graça da sua liderança e génio. Daí o tom arruaceiro da entrevista ao Expresso. Como todos os megalómanos, ele não consegue viver sem palco, sem acção, sem inimigos. Ora, Sócrates comprometeu as hipóteses de ser candidato a Belém com esse tom, e sabe-o. Nem mesmo a esquerda o poderá ver agora como chefe de Estado, depois da patente mania da perseguição e de um incidente diplomático com a Alemanha. Por outro lado, nada sugere que vá disputar o PS ao Tozé inseguro antes das legislativas. E se, por inimaginável inépcia, o Tozé as perder e sair pela porta dos fundos, o engenheiro-filósofo terá pela frente o desejado Costa e magras hipóteses de voltar ao trono. Ou seja, a probabilidade de ir a votos tão cedo é remota.
Daí o meu cepticismo: lançamento de quê? A única coisa que vi lançar esta semana foi um mau filme com um animal ferido, outrora feroz, a ameaçar vinganças e sequelas. Chega? Talvez. Isto desceu tão baixo que tudo é possível. Mas ele que não comece já a afiar as garras.

PP

Criteria

Alguns dos pacíficos anti-franquistas festejam por estes dias a libertação de uma  demencial etarra assassina.

FNV

Arrivederci.

Cortem no défice que eu regresso em dez dias.

Luis M. Jorge

Boa notícia mas

Défice 40% abaixo do limite imposto pela troika. Como não percebo nada de economia, e devemos  sempre  evitar tristes figuras,  fico-me pelo estatuto de qualquer cidadão: o brutal aperto produziu pelo menos  um resultado. É bom  porque as pessoas continuam  a ter prestaçoes sociais ( e porque não pertenço  à comandita  de assalto à São Caetano e S.Bento  nem tenho  contas para ajustar)

Sobra uma simples pergunta: o que vai acontecer quando já não houver mais receita do lado fiscal?

FNV

É uma pena

Que o Bloco não tenha  ouvido  o  Daniel de Oliveira: talvez não tivesse oferecido o país a Passos  e Portas.

FNV

Tehran Ana

Ana Gomes  esteve no Irão. A preocupação de AG não é com o enforcamento de  homossexuais, a execução de opositores e a prisão de advogados e bloggers em Teerão. A preocupação de AG é com a oposição iraniana, que viola os direitos humanos.

Mais  interessante é esta busca: ao contrário da publicidade habitual das acções  de AG, por exemplo,  com a violação dos direitos humanos  dos passageiros do voos da CIA, a viagem desta semana ao Irão  parece clandestina ( nem TSF nem SIC-N , népias), só encontramos as declarações à Antena1.

Por mim, quando voltar a ver e ouvir esta mulher, de narinas frementes e grávida de superioridade moral , fulminar os angolanos  violadores de direitos humanos,  vou à farmácia comprar Primperam.

FNV

Não percebi esta

Afinal, foi o Lula que apresentou o livro do Sócrates. Não devia ser o Figo?

PP

Tudo tão triste

Salvos pelo pobre diabo que deu dezenas de pontos aos adversários quando o grande génio Jorge Jesus nele insistiu.

Não admira  que um  sabidaõ como o F.J. Viegas  diga, injectado de compreensão, que os críticos de JJ são um bando de desmiolados  e ressabiados.

FNV

Cortar, 2.

Mais interessante ainda:

A despesa com consumos intermédios do Estado, uma das que mais vezes o Governo prometeu reduzir este ano, vai ficar, no final de 2013, mais de 400 milhões de euros acima daquilo que foi previsto no primeiro orçamento rectificativo deste ano.

Com os cumprimentos daqueles rapazes que reduziram as pensões de sobrevivência.

Luis M. Jorge

Tiro de Sako 85 Safari

Aqui.

Sobre os tiques autoritário-narcísicos de Marinho Pinto, aqui. Lembrem-se destas acusações  de MP quando o ouvirem acusar meio mundo.Por isso digo que  ele é mais inofensivo para o poder do que um mudo: meçam os resultados  práticos das cavalgadas narcísicas de MP…

FNV

Pois claro.

Polónia: Arcebispo católico insinua que crianças também são responsáveis por pedofilia

O líder da Igreja Católica na Polónia está sob uma onda de críticas depois de ter sugerido no início deste mês que as crianças são parcialmente responsáveis pelos abusos sexuais sofridos por padres.
O arcebispo Jozef Michalik, líder do Episcopado na Polónia, comentava as revelações sobre padres pedófilos no país. E defendeu em declarações a jornalistas que uma criança oriunda de uma família disfuncional “procura proximidade com outros e pode perder-se, fazendo com que a outra pessoa também se envolva”.

Elas aparecem em calções, a lamber um chupa, querem muito amor muito carinho e nós pimba. Que Deus perdoe aos pirralhos.

Luis M. Jorge

Costas largas

O CDS recusou  a proposta, feita por deputados do PSD membros da JSD,  da  possibilidade de um referendo à coadpoção por casais homossexuais ( via CM).

Era capaz de jurar que  era o CDS que dizia que as medidas fracturantes são discutidas nas costas do povo.

PS: Os da  ILGA  também estão cheio de medo do povo:

“Propor um referendo neste momento sobre esta matéria é assim também uma demonstração de dificuldade em lidar com a diversidade e liberdade de pensamento dentro do próprio grupo parlamentar do PSD”.

(via)

FNV

Moçambique

Não me ri porque o assunto vai tramar a vida de muita gente, mas podia ter rido quando há umas  semanas vi Marcelo Rebelo de Sousa em directo de Maputo. No seu  dito comentário semanal, dizia, com ar sério e natural, que estava tudo bem no país. Bem ou mal, quem acredita  nos fretes que MRS faz que se amanhe.

E isto porque, aqui, em Portugal, já eu sabia há meses que a situação era explosiva. Não só porque vejo o programa sobre  África ( RTP-informação , sábados á noite), como também por causa do que uma antiga doente minha me contou  em Agosto. Ela e o marido compraram um 4×4 na África do Sul em Julho e quiseram fazer  Maputo-Beira. Só os deixaram ir em coluna militar.

FNV