Monthly Archives: Novembro 2013

Erros, 4.

Onde é que dói à esquerda, perguntava eu, supondo que o estado de prostração em que se encontra é artificial. Há algo de perturbador em verificarmos que os activistas mais combativos dos três partidos da oposição não integram os núcleos que os dirigem: no PS, Sócrates e Soares; no PC, Arménio Carlos; na esfera de influência do Bloco de Esquerda, Daniel Oliveira e Rui Tavares. Quanto a Seguro, a Jerónimo e aos poliamorosos da rua da Palma, parecem confortavelmente instalados na tempestade perfeita da fronda neoliberal.

Vale a pena recordarmos o seguinte: esperar pode ser uma estratégia racional. Quando Steve Jobs regressou à Apple cortou as despesas, limpou os projectos de pesquisa e desenvolvimento, reduziu a gama a um pequeno grupo de ofertas segmentadas, fez uma campanha de posicionamento, lançou um computador popular e a seguir ficou quieto, aguardando aquilo a que chamava “the next big thing”.  Mais tarde apresentou o iPod e o resto é História.

Mas o tempo de pousio da Apple foi preparado por meia-dúzia de acções enérgicas, o que nada tem de comum com a indolência da nossa oposição. A cultura e organização interna de cada partido, o seu discurso económico, a formulação dos grandes temas, o modo como se relacionam com os eleitores, as ligações que estabelecem com os partidos mais próximos, os processos de financiamento, a escolha dos territórios da acção política não se alteraram desde 2011.

O país mudou, mas os partidos aguardam uma inversão de ciclo em vez de prepararem o caminho para a revolução. Onde é que dói? Aqui:

Incoerência das propostas económicas.
Relutância em reconhecer os limites da autoridade do Estado perante os credores.
Incapacidade de negociar uma coligação.
Hesitação entre uma perspectiva cíclica ou disruptiva da acção política.
Uma cultura que favorece os públicos internos, sacrificando o crescimento.
Um retrato idealizado dos eleitores.
Processos de financiamento obscuros, possivelmente ilegais.
Permeabilidade à influência dos grupos económicos (PS).
Muitos limites à extensão territorial.
Concentração.
Linguagem estereotipada, distante do povo.
Confiança excessiva no funcionamento das instituições.
Apego aos equilíbrios do convívio partidário.
A convicção de que o país não mudou.
Insensibilidade social, com lip service aos belos valores.

E isto é só para começar.

Luis M. Jorge

Nacional Situacionista ( X)

O poder vive da receptação. Neste caso, o pacto ofensivo com a verdade tem a sua tradução doméstica aqui.

Para dentro de casa reservam as gongóricas proclamações de princípio,  vergastando ora os fascistas trauliteiros ora  os incitadores de violência.

FNV

 

Eu vi o futuro, e é belo

Há um ano, o Papa era cúmplice da ditadura argentina. Agora, é a última esperança da esquerda para defender os pobrezinhos.
Faz-nos acreditar no género humano, esta coerência, esta seriedade, esta pureza de convicções.
Mal posso esperar pelo ano que vem.

PP

Estado total de liquefacção

“O socialismo ainda não existiu em parte nenhuma do mundo”

Luis Fazenda, Telejornal das 21h, pelas 21.40h, SIC-N.

FNV

Pub: Debate sobre a prova dos professores

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(Clique para aumentar.)

PP

Estamos a milímetros

Basta mais uma  entrevista a Bagão Félix  ou um artigo de Pacheco Pereira: “Nunca foi necessária ajuda externa, foi tudo  um plano dos neoliberais“.

FNV

Nacional Situacionista ( IX)

O espectáculo  da crise apropria-se  do público da crise. Os media e os advogados dos  em-crise organizam as falas que depois  serão arquivadas consoante as necessidades do mercado.

Por exemplo, decidiram que as manifestações  e as grândolas estão fracas. O mercado publicitário   não reage, o número foi  demasiado visto.  Agencia-se então um punhado de piruetas:  hoje nos  ministérios , amanhã no  aeroporto.

FNV

É deplorável.

Ver o Papa Francisco apelar à violência sem uma consulta prévia aos sentimentos delicados da direita portuguesa. Não, não se faz isto a um público-alvo dois dias após a tranquibérnia na Aula Magna. Este homem, caros leitores, é o Vasco Lourenço da Santa Sé:

Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível erradicar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reação violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se cada ação tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte. (…)

Mais cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que as corridas armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais. Servem apenas para tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança, como se hoje não se soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam novos e piores conflitos. Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa “educação” que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos veem crescer este cancro social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos governantes.

(Via).

Luis M. Jorge

E também deu a táctica ao Cristiano Ronaldo

Segundo o Público, Mário Soares fez ontem a seguinte declaração: “O Papa disse que isto vai resultar em violência dois dias depois de eu dizer”.
Ou perdeu a noção do ridículo, ou está definitivamente senil. Em qualquer dos casos, concordo que isto não vai acabar bem.

PP

Nacional Situacionista ( VIII)

O único objectivo da oposição mediatizada  aos credores internacionais é substituir-se aos actuais prebostes. É uma disputa de mordomos.

Por que motivo passa por um assomo geriátrico-patriótico de velhos  sabidos acolitados  por leiteiras e snipers? Pela mesma razão que  Jacques Fillon queria transformar as igrejas em casas de meter medo.

FNV

Claro

Por isso os orfãos do terror sovietóide e maoísta se dão tão  bem com os fanáticos islâmicos. Não lhes basta a censura ao presente; como  ensinava Eisenstadt, os projectos fundamentalistas necessitam de criar um passado  original.

FNV

Em nome do Pai (mas sem qualquer estereótipo de género, porque o Pai não existe e, se existe, não é deus e, se é deus, é com minúscula)

Os apelos bem-intencionados, ou nem por isso (como o que o Luís linca no seu último post), a que Igreja se pronuncie sobre a violência doméstica deixam-me sempre perplexo.
Primeiro porque são muitas vezes contraditórios. No segundo referendo do aborto, o Luís e a Fernanda Câncio escreveram num blogue em que houve quem negasse à Igreja o direito de se pronunciar sobre questões políticas. Sei que essa não é a posição do Luís, mas sei pelo que lhe li mais tarde. Quanto à Fernanda Câncio, suponho que só lamente o silêncio dos bispos quando dizem o que não gosta. Ora, vamos aceitar, por momentos, que o aborto é apenas uma questão política (não é) e que a violência doméstica é também uma questão política (e é). Se a Igreja não se pode pronunciar sobre o aborto, porque é que deve pronunciar-se sobre a violência doméstica? Porque a Fernanda Câncio manda? Mas a Igreja agora é o PS do Sócrates, em que a senhora sugeria nomes para deputados? Além disso, a vox populi concorda que a Igreja tem uma influência cada vez menor sobre o comportamento dos portugueses, incluindo os católicos. Voltando ao referendo do aborto, Francisco Louçã chegou a saudar a vitória do sim como uma derrota da Igreja. De tanto o repetirmos, talvez os próprios bispos tenham hoje menos fé no seu poder. Se querem usar a influência que a Igreja não tem, pelo menos decidam-se.
Também me causa perplexidade que os apelantes bem-intencionados (Luís) ou nem por isso (pois) acreditem realmente que a Igreja deve dizer o que eles querem. A velha esquerda queria calar-nos, a nova esquerda quer obrigar-nos a falar. Mas só do que eles decidirem. Violência doméstica e pobrezinhos, sim; aborto e casamento gay, não. Sucede que é a Igreja a decidir a sua “agenda”, e essa agenda não é a de quem quer convertê-la em porta-voz do politicamente correcto. Sim, a violência doméstica é uma questão grave. Mas por que raio a Igreja ganha um súbito crédito na matéria e o perde no caso do aborto? Mistérios da falta de fé.
Ou talvez o mistério não seja assim tão grande. O respeito da Fernanda Câncio pela Igreja é público e notório. Sem lhe reconhecer qualquer autoridade nem lhe devotar a mínima simpatia, quer agora que os bispos tenham uma palavra a dizer quanto a um problema complexo. Acredito que ela esteja mesmo preocupada com as mulheres (ou os homens) que sofrem e procure todos os aliados, até os mais pestíferos. Mas eu, cínico como sempre, vejo aqui outra coisa. Vejo uma oportunidade de marcar mais uns pontinhos na guerra cultural contra a Igreja, eterno ódio de estimação dos arautos do progresso. E com toda a franqueza, Luís, nem os bispos têm o dever de caridade de submeter-se ao imperativo canciano.

PP

Nacional Situacionista ( VII)

Fazemos o que  é preciso para mostrar  que não somos  necessários. A metagrafia actualizada: a máquina alimenta  a máquina e não morde a mão.

Uma técnica concreta para subverter a atmosfera da vida quotidiana? Apresentar a pizza como testemunha.

FNV

O Papa e as igrejas.

Da Fernanda Câncio, que também é filha de Deus.

Luis M. Jorge

Nacional Situacionista ( VI)

Estamos a habituar-nos  a viver muito abaixo das nossas possibilidades.

Resta-nos abolir, ou até criminalizar, todas as recordações.

FNV

 

Calma, Odete.

O Pedro introduz aqui um simile para ilustrar o sempre revisitado desvio esquerdista da nossa cultura política:

Então façamos um teste. Imaginem, por momentos, que a expressão “vamos correr com eles à paulada” era usada por Paulo Portas. Não faltariam comentadores indignadíssimos nas televisões, nos blogs, nos cafés, a clamar que a direita lusa descende em linha recta do Professor Salazar e do senhor D. Miguel, que estamos à beira de uma ditadura fascista e que “por menos do que isto mataram o D. Carlos”

Para grande surpresa dos leitores, devo discordar do meu companheiro de blog.  Julgo que o paralelo entre Vasco Lourenço e Paulo Portas não possui justificação histórica ou institucional. A Paulo Portas correspondem por mérito próprio líderes partidários, como Tó Zé Seguro, Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins. Não os tenho visto prometer paulada ao Governo, excepto a que metaforicamente lhe é devida em urnas ou greves gerais. Pelo contrário, parecem-me sofrer de excessos de urbanidade que se aproximam por vezes de um temor reverencial.

Se o Pedro me permitir, recomendo-lhe que considere outro espelho mais simétrico da idade, do percurso político e do linguajar colorido de Vasco Lourenço: Alberto João Jardim, por exemplo. E como a complacência com que é recebido nos serve de critério para estas avaliações, talvez o Pedro concorde que afinal existe um desvio de direita na nossa cultura política.  

Eu próprio, homem de esquerda, sofro horrores quando tenho de demonstrar o meu amor pela humanidade.

Luis M. Jorge

Nacional Situacionista ( IV)

Há numa  rádio um casal ( de irmãos  ou para procriação assistida ) em que ela  arde dos peitos  pela tomada do palácio de inverno enquanto ele faz uns à Luiz Pacheco aos gajos que mandam.

Ainda não criámos o pantâno, mas já  criámos sanguessugas.

FNV

Metáforas

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A complacência com que têm sido recebidos os apelos à “paulada” de Vasco Lourenço, ou a legitimação da violência de rua por Helena Roseta, ou as ameaças de Mário Soares ao Governo, é apenas um sintoma do tal desvio para a esquerda da nossa cultura política. Não é um caso exclusivamente português, de resto. Desde a Revolução Francesa que a esquerda é portadora da utopia e do progresso, mesmo que a utopia e o progresso se traduzam em milhões de mortos. A direita, pelo contrário, tem de provar sempre o seu amor à Humanidade, como se queixava Aron em causa própria, mesmo para exigir impostos mais baixos ou o direito de educar os filhos.
Exagero? Então façamos um teste. Imaginem, por momentos, que a expressão “vamos correr com eles à paulada” era usada por Paulo Portas. Não faltariam comentadores indignadíssimos nas televisões, nos blogs, nos cafés, a clamar que a direita lusa descende em linha recta do Salazar, do Sidónio e do senhor D. Miguel, que estamos à beira do fascismo e que “por menos do que isto mataram o D. Carlos” (esta também é boa, mas fica para depois). Aliás, nem sequer é preciso dizer algo de remotamente semelhante. Quase sem abrir a boca, Cavaco teve de enfrentar o labéu de cúmplice do salazarismo na sua primeira campanha para as presidenciais. Assim como os grupos pró-vida, no segundo referendo do aborto, foram acusados de ligações ao PNR e aos maluquinhos da America que põem bombas em clínicas. Lembro-me bem. Mas se é Vasco Lourenço a prometer paulada ao Governo, ah, então é uma metáfora.
Sucede que as metáforas não matam, mas moem. Dizer que se vai correr alguém à paulada não é o mesmo que dizer “matam-se dois coelhos de uma cajadada”. Ou, como já ouvi em versão ainda mais metafórica e pós-moderna, “matam-se dois coelhos com uma queijada”. À parte a referência dúbia aos coelhos, percebemos de imediato que, aqui sim, temos uma metáfora. Nenhum de nós tem a mínima intenção de andar por aí a matar coelhos à cajadada – ou mesmo à queijada. As exaltações supra fiam mais fino. Porque é razoavelmente claro que Lourenço, Roseta e Soares têm o firme desejo de que que este Governo caia. Não se trata de uma novidade e daí não vem mal ao mundo. A novidade é que, para eles, a violência voltou a ser um meio legítimo para passar das metáforas aos actos, como se um Governo e um Presidente eleitos fossem iguais a uma ditadura. O que talvez seja poético, mas nada tem de democrático.

PP

Tonalidades

Descobri ontem que quando as decisões do TC  castigam propostas do governo, abrem telejornais, convocam analistas, enfim,  estimulam o intelecto.

Quando as decisões do TC confirmam os projectos do governo, os media ( SIC-N e TSF à cabeça) optam pelo que estiver à mão: da neve na Bulgária à migração das cegonhas.

FNV

ári aa

Com sorte

Chegaremos  a poder charrar em casa, mas nunca a fumar um cigarro.

FNV

Nacional Situacionista (III)

Os revolucionários  fabricados  no Ikea vislumbram uma oportunidade.

É tudo o que terão.  Depois montam um roupeiro e sai-lhes um cabide.

FNV

Nacional Situacionista ( II)

Dêem-me um ponto de apoio e afundarei o país, diz o aparelhista com motorista.

Arrasta contigo o sanatório e ficaremos eternamente agradecidos.

FNV

Nacional Situacionista (I)

Um sanatório inteiro: da esquerda à direita, do centro às bordas, das pantufas às  alpercatas. É toda uma enfermaria  pomposa que está a perder o poder e  a influência, depois de ter perdido o país.

Saboreemos a fogueira.

FNV

 

 

Erros, 3.

Imaginemos, portanto, um estratega. Secretária de mogno, vista para o rio, copo de porto vintage na mão, perscrutando um mapa da pátria ditosa com olho de lince até erguer o dedo, que volteia longamente antes de poisar num gesto imperioso sobre o ponto exacto em que as linhas inimigas irão ceder à pressão dos nossos heróis. Certo? Errado.

A estratégia é uma matéria suja, uma das artes menos adornadas pelo intelecto (o facto de ter sido entregue a militares não ajudou). Nos negócios é contaminada pelo culto da personalidade, a burocracia do planeamento, pelas relações de poder e pelo acesso a consultoras vulneráveis aos receituários da estação. Mintzberg mapeou o território, para quem guarda algumas ilusões.

Na política ainda é pior. Porque o enlace da política com a retórica encoraja o vício que Richard Rumelt designou por “fluff”:

Fluff is a form of gibberish masquerading as strategic concepts or arguments. It uses “Sunday” words (words that are inflated and unnecessarily abstruse) and apparently esoteric concepts to create the illusion of high-level thinking.

Além disso, a natureza muito negociada da actividade política conduz a outro fenómeno habitual: a relutância em reconhecer os desafios.  Os desafios, em sentido próprio, alteram o status quo.

Ora, esta mistura de tretas com pusilanimidade desemboca no grande erro dos núcleos partidários: o de confundirem objectivos com estratégias. “Mais tempo e mais dinheiro” não é uma estratégia. “Ir além da troika” não é uma estratégia. “Salvar a constituição” não é uma estratégia. Qual a diferença entre um objectivo e uma estratégia? Os objectivos pertencem ao domínio da abundância (podemos acumulá-los), as estratégias ao domínio da escassez (temos de escolher).

Na maior parte dos casos, a elaboração estratégica decorre de um estado de necessidade. A estratégia é uma consequência da dor, actual ou iminente. Por isso, nestas reflexões breves sobre os caminhos que se abrem para a esquerda é fácil intuir a pergunta inicial:

Onde é que dói mais?

Luis M. Jorge

Reflexões sobre a violência*

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O que me surpreende nos apelos mais ou menos discretos à violência no conciliábulo da Aula Magna não é o tom antidemocrático da coisa. Em Portugal, desde o 25 de Abril que a esquerda põe em causa a legitimidade de qualquer maioria que não seja sua. Foi assim no PREC, foi assim com a AD, foi assim com os governos de Cavaco e foi assim com Cavaco na presidência. Para a esquerda, a democracia parlamentar só é “o pior sistema exceptuando todos os outros” quando o voto a coloca no poder. Se, por qualquer razão perversa e misteriosa, a direita ganha as eleições, então o governo tem de ouvir “a voz da rua” e a legitimidade formal de uma maioria em Belém ou em S. Bento cede de imediato a uma difusa legitimidade moral que, convenientemente, apenas os profetas canhotos sabem ler no céu. Em Portugal, a esquerda considera-se dona do regime democrático – sem compreender que a democracia é um regime sem donos. A direita tem de provar continuamente o seu direito de cidade. Qual é a diferença entre isso e as democracias censitárias do século XIX, em que só os ricos tinham o privilégio de votar e governar? Uma: os ricos tinham melhores maneiras.
Nada disto me surpreende. O que me surpreende é que gente sempre tão modesta a lembrar-nos o seu papel na construção do regime (inegável) não se aperceba do seu contributo para destruir o regime com os apelos à “paulada”. Já se esqueceram que houve outro capitão de Abril que passou das palavras aos actos, fundando uma organização terrorista? Já se esqueceram do PREC? De que a retórica era a mesma, mas os alvos eram eles – Soares, o PS, Vasco lourenço, o Grupo dos Nove, em suma, todos os moderados vendidos ao grande capital e à contra-revolução? Já se esqueceram da Primeira República, com os discursos incendiários que acabavam, tarde ou cedo, em golpes militares e “noites sangrentas”? E que levaram o o país, fartinho dos republicanos, a suspirar de alívio quando chegou a ditadura que prometia a ordem?
Talvez se tenham esquecido. Oxalá não tenham que recordar-se da pior maneira. E se isto parece uma ameaça, corram-me à paulada.

*Com a devida vénia ao Sr. Sorel.

PP

Cedo piaram

Os blogues pró-governamentais  e os  comentadores ( como o Alberto Gonçalves) exultaram com esta entrevista do comunista Bernardino. É um direito ( aqui não há pauladas), mas cedo piaram.

Que  a realidade é uma maçada e que não há receitas mágicas já todos sabíamos. O que a plateia frenética esquece é que a contenção e o condicionamento de que  fala Bernardino não serão, de certeza, aplicados por baixo. E isso faz toda  a diferença.

FNV

Recordando O’Neill ( V)

-Está só?

Nunca. Sempre.

FNV

Amigos, companheiros e camaradas* (II):

Eles que vão para as  suas  casas  enquanto podem andar a pé e inteiros.

Viva  a liberdade.

* copyright Manuel Alegre/JPP/Aula Magna

FNV

Amigos, companheiros e camaradas* ( I):

É preciso escolher um lado. Quem não está connosco está com o  bando. Nós estamos do lado certo. O outro lado é o lado do bando.

Viva  a democracia e o Estado de Direito.

* copyright Manuel Alegre/JPP/Aula Magna

FNV

Desespero,

cães e o Mestre. No Depressão Colectiva.

FNV

Exemplos.

Em comentário ao post anterior podemos encontrar esta pérola do ressentimento:

Quando tirarem mais 8 mil milhões…que é a única certeza nos próximos dois anos… falamos…
É como nos putos…habituados a xbox ficam só com a tv berram, ou os fieis amigos com espagueti em vez de suculento osso…

Da direita que hoje em dia apoia o Governo só nos chega disto: “eles vão pagar”, “agora guinchem”, “estavam habituados à boa vida, mas acabou-se”. A verborreia é escrita com uma satisfação animal, uma espécie de asco por qualquer instinto de protecção, de empatia, de sentimento comunitário. Imagino esta gente a escrever em garagens ou sótãos imundos, em ruas feias de um daqueles subúrbios em que o lixo se acumula como um presságio. Sim, “eles”, nós, “vamos ver”.

Luis M. Jorge

Com um brilhozinho nos olhos

Ouço Mário Soares e Vasco Lourenço, com um brilhozinho nos olhos, saudarem a chegada da violência redentora. E fico na dúvida: a esquerda avisa de um perigo ou procura um atalho?

PP

Tempos estranhos.

Em que a esquerda tem de explicar conceitos fundamentais, como o de patriotismo, ao pagode:

A ver se nos entendemos duma vez por todas: os manga de alpaca que escrevem relatórios sobre a situação portuguesa, que são assalariados duma instituição de que Portugal também faz parte, não têm de fazer considerações sobre as decisões dum tribunal nacional. Nem boas, nem más, nem sobre o passado, nem sobre o futuro. Esperam, num respeitoso, diplomático e sepulcral silêncio, que se exige a qualquer organismo internacional que tenha de lidar com um Estado soberano, pelas decisões dos órgãos de soberania desse país. Depois, com base nela, tratam das devidas negociações com o governo português. Sem qualquer comentário de cariz político ou institucional, para os quais não estão nem habilitados pelo currículo, nem legitimados pelo voto.

Daqui.

Luis M. Jorge