É um dos livros do ano seleccionados pelo Financial Times, que aparentemente (ainda não li) enterra décadas de bullshit neoliberal:
Yes, innovation depends on bold entrepreneurship. But the entity that takes the boldest risks and achieves the biggest breakthroughs is not the private sector; it is the much-maligned state.
Mazzucato notes that “75 per cent of the new molecular entities [approved by the Food and Drug Administration between 1993 and 2004] trace their research … to publicly funded National Institutes of Health (NIH) labs in the US”. The UK’s Medical Research Council discovered monoclonal antibodies, which are the foundation of biotechnology. Such discoveries are then handed cheaply to private companies that reap huge profits.
A perhaps even more potent example is the information and communications revolution. The US National Science Foundation funded the algorithm that drove Google’s search engine. Early funding for Apple came from the US government’s Small Business Investment Company. Moreover, “All the technologies which make the iPhone ‘smart’ are also state-funded … the internet, wireless networks, the global positioning system, microelectronics, touchscreen displays and the latest voice-activated SIRI personal assistant.” Apple put this together, brilliantly. But it was gathering the fruit of seven decades of state-supported innovation.
Luis M. Jorge
“the entity that takes the boldest risks and achieves the biggest breakthroughs is not the private sector; it is the much-maligned state.”
This is common knownledge in some circles (for instance at MIT, DoE and DoD; et dans les labos publiques aussi) for a long, long time – je dirais même plus: il y a très longtemps. O facto de hoje em dia parecer surpreendente tem mais a ver com a natureza “marketing” (demagogia e mentira) do debate público do que com a realidade nua e crua.
Oui, ou melhor, yes.
Exactamente. Tal como na URSS, na Coreia ou em Cuba. Sem capital público e decretos regulamentares o mundo não avança e a roda está aí para o provar.
Ó Sôr Tiago, podia explicar-me o que é que a planificação R&D norte-americana ter sido e ainda ser suportada maioritariamente pelo Estado tem a ver com a URSS, a Coreia ou Cuba? Ou isso é só uma reminiscência do eixo do mal, e o Sôr Tiago está como o Bush e não sabe o que é que eixo quer dizer?
Caro Luis M. Jorge,
Parece interessante mas convém distinguir ou separar um pouco os campos:
Se estamos a falar de investigação (seja pura ou aplicada), esta deve ser principalmente financiada pelo Estado porque é pouco ou nada interessante para os privados (a incerteza é imensa e, por arrasto, a capacidade de prever retorno efectivo e concreto – é um pouco como jogar no totoloto). Agora, se estamos a falar de explorar (no bom sentido…) comercialmente essas mesmas descobertas, o Estado passa a ser uma desgraça.
De certa forma, acho que se pode aplicar a ideia que ao Estado compete criar (e manter) condições para a actividade privada. Não deve é entrar directamente nesta (logo, tem lógica apoiar a investigação, construir infra-estruturas de transporte e comunicação, etc mas NÃO criar e gerir empresas).
Carlos Duarte, isso faz-me sorrir, porque “criar condições” para o mercado, no paleio dos neo-lberais, sempre foi desimpedir caminho, desamparar a loja, colocar semáforos, policiar, etc..Ora, já se sabe há muito tempo que o mercado exige muito mais do que isso. Dinheiro do estado, muito, e investigação e criação do estado, em ciência e tecnologia e muitos meios humanos do estado para tudo isto, incluindo mesmo a formação de uma grande parte dos seus investigadores e criadores. Portanto, o estado cria de facto empresas e muitas. Como sabe, a parte mais fácil e menos onerosa disto tudo é o fabrico e a distribuição.
Caro caramelo,
São coisas diferentes: sim, o Estado deve “desamparar a loja” e evitar colocar obstáculos inúteis (porque alguns são necessários) no caminho dos privados. O que não deve – e repito – é intervir como “agente de mercado” (i.e. concorrer com privados).
Quanto ao resto (formação, infraestruturas) desde que as mesmas sirvam o bem comum (e é importante cá pelo burgo distinguir o bem comum do bem de alguns!), essa é função do Estado.
Quanto ao Estado criar empresas, aí discordo em absoluto. Não, não cria. E quem já “criou” ou geriu alguma sabe bem disso. Uma coisa é “arriscar” dinheiro dos outros (e, para uma perspectiva mais consensual, veja o que aconteceu com os bancos de investimento) outro é arriscar o seu. Mandar fazer estradas ou universidades é muito fácil (já entre o mandar e o fazer de forma adequada a coisa complica e muito). Criar uma empresa (seja fabrico ou distribuição) é a parte difícil.
Carlos, “cria”, no sentido em que as subsidia, pensei que tinha ficado claro, O que acho curioso nisto tudo, e não me respondeu a isso, é que o discurso do empreendedorismo sempre foi exatamente o contrário. apenas se pedia ao estado que não criasse obstáculos.. Afinal, afinal, não são os empresários que arriscam, mas isso é um segredo de polichinelo.. Afinal, muitas empresas esperam para ver se funciona. Milhões são gastos pelo estado em investigação e em formação. Essa é, obviamente, a parte mais custosa, demorada e complexa, não é o fabrico e a comercialização. Não queriam o estado fora do ensino e da indústria? “Criar condições” queria dizer simplesmente, “não empatar”, não é?
Caro Caramelo,
Continuo a discordar consigo da conclusão dos seus comentários: não acho que a parte fácil caiba ao Estado. Concordo que a parte mais onerosa (e genérica) cabe ao Estado, mas essa é uma das funções do Estado, promover o bem comum (que, ao contrário dos liberais extremistas – que não sou – não acredito que apareça por mera geração espontânea – cria-se e cultiva-se). Já a parte difícil, o risco efectivo e com consequências directas, cabe ao individuo.
Carlos, já começou ai uma revolução copérnica no mainstream do liberalismo (não o extremista), mas “bem comum” ainda é muito vago. É mesmo dinheiro, paletes, e muito trabalho, esforço, tempo, aquela coisa que nos seminários de empreendedorismo se diz que os indivíduos fazem, com o estado a empatar. Qual é a oração que é lá gritada, seguida de Amen,Praise the Lord? “Afaste-se o Estado que nós fazemos!”. Resulta. Julga que os miúdos não pensam que a internet foi inventada pelo Bill Gates numa garagem com dinheiro dado pelos paizinhos? “Risco” é investigar e testar uma molécula ou uma fórmula, durante anos, gastando pipas de massa, com sucesso incerto e sem lucro imediato. O mercado é um senhor respeitável e conservador, não se mete em aventuras, se tiver juízo. Veja o ensino. O grosso dos investigadores e jovens génios contratados pelas grandes empresas e grandes centros universitários de investigação, vieram do público, que recolhe toda a gente. As privadas, não querendo arriscar o prestígio e o bem estar dos accionistas, escolhem-nos a dedo, com pequenas quotas bem publicitadas. Porque iriam arriscar o prestígio e os rendimentos com crianças de êxito incerto?
ler este livro, como fiz, nos tempos q correm, e’ quase como ler ficacao cientifica, tao ‘desligado’ q anda do paleio que tomou conta disto tudo. um eye opener, que seguramente nao chegara ao seguro e ao seu laboratorio de ideias.
E os subsídios milionários às grandes universidades.
http://www.bostonglobe.com/news/nation/2013/03/17/harvard-mit-and-other-research-schools-thwart-obama-administration-effort-cap-overhead-payments/Nk5PT0Mc8MQZihFVNs5gNK/story.html
Existe por cá o mito de que a Harvard, etc, vivem do mecenato privado e das propinas. Julgo que foi o Rui Ramos que disse no Expresso que em Portugal só deviam sobreviver as universidades que merecem, isto é, as que criam e vendem, sem o choradinho dos subsídios. Com essa ingenuidade revolucionária, não era certamente contratado para assistente de direção de nenhuma universidade privada americana do top 500.
Bem, para não falar na capitalização financeira onde Harvard, Princeton e Yale obteem retornos de 10-11% ao ano *acima* da inflação. Curiosamente, outras universidades também bem cotadas, mas com um “endowment” inferior, têm um rendimento à volta dos 5-6%.
Isto é uma ilustração perfeita da instabilidade sistémica do universo do capitalismo financeiro: o rendimento do capital é proporcional a uma certa potência do capital inicial. Isto é tecnicamente uma instabilidade. Não pode durar para sempre, é insustentável. Acaba com dois ou três ultra-supra-gigantes rodeados de escombros. Ah, esquecia-me, há sempre a guerra para rebentar tudo e recomeçar a construção uma vez mais.
Perdão, se a potência for superior a um, o crescimento é super-exponencial: tende para infinito ao fim de um tempo finito. Não há perigo, alguma coisa rebenta antes disso.
E não é só isso que escreve (e bem) no comentário anterior Caramelo: «Dinheiro do estado, muito, e investigação e criação do estado, em ciência e tecnologia e muitos meios humanos do estado para tudo isto, incluindo mesmo a formação de uma grande parte dos seus investigadores e criadores».
O Estado investe também na transmissão de experiência relevante do passado, que, não sendo hoje «criadora ou inovadora» o foi a seu tempo. Se bem me lembro, no ICS onde fui aluno de mestrado de Rui Ramos em História das Ideias Políticas não se inovava ali coisa nenhuma.Repetia-se, transmitia-se, o já sabido. É preciso manter, tanto quanto inovar. Grande parte dessa tarefa indispensável (e prudente, diria Rui Ramos) cabe ao Estado.
«do top 500» — LOL
Caro Luís, como diria aquele personagem inefável denominado Miguel-qualquer-coiso que foi a derradeira nomeação do Dr. Relvas Miguel para liderar o programa «Impulso Jovem»: Ah, “bater punho”, etc. e tal…
Pus um retrato dele na agência, para estimular o departamento. Falo a sério.
A questão é saber, por exemplo, na investigação científica, como determinar critérios. A República francesa guilhotinou Lavoisier e disseram os juízes que o condenaram que a república não precisa de sábios.