A leitura previne o Alzheimer, dona Pombinha.

João Ferreira do Amaral, numa entrevista exemplar:

As políticas de austeridade fazem sentido quando o problema é estritamente financeiro. Veja-se o caso da Irlanda, em  que o problema não estava na estrutura económica, mas no facto de os seus bancos se terem metido em coisas em que não deviam ter metido. Aí faz sentido que as medidas sejam financeiras, embora graduais: há um erro em tentar equilibrar tudo de um dia para o outro. Agora quando o desequilíbrio, como o nosso, é devido a uma situação estrutural do próprio tecido produtivo, a gente pode fazer os sacrifícios financeiros que quiser que os problemas vão continuar lá. E os sacrifícios não vão servir para nada. Foi esse o grande erro da Comissão Europeia, que tinha a responsabilidade de conhecer a situação. Costumo dar este exemplo: se os Estados Unidos tivessem encarado a situação na Europa após a Segunda Guerra Mundial como a Comissão Europeia encara esta crise, ainda hoje a Europa estava destruída. Tiveram o génio de perceber que o plano Marshall tinha como objectivo, não o equilíbrio orçamental, mas o investimento nos sectores produtivos.

Luis M. Jorge

 

7 thoughts on “A leitura previne o Alzheimer, dona Pombinha.

  1. XisPto diz:

    Sem dúvida. A prova de que entre os recursos próprios de que não podemos abdicar se encontra a inteligência, a honestidade intelectual, o sentido de intervenção cívica, e porque não usar essa palavra maldita, o patriotismo.

  2. E outra igualmente interessante no Expresso (na Revista). Leste o livro dele? Se não, lê. Não é preciso concordar com tudo para apreciar a clareza e a inteligência em acção.

    • fnvv diz:

      Muito interessante mas seria mais se ele desenvolvesse quais os problemas do nosso tecido produtivo responsáveis pela nossa desgraça ( afinal não é a Merckel) e o que propõe. Talvez no livro, vou ver se encontro.

      • XisPto diz:

        O livro é igualmente omisso relativamente a esse ponto. Não creio que seja uma lacuna. Na hierarquia de importâncias, a arquitectura do euro e a ferramenta taxa de câmbio são (quase tudo).

      • Encontras um começo de resposta aqui:

        http://economico.sapo.pt/noticias/cip-pede-a-michael-porter-um-novo-rumo-para-portugal_22349.html

        A questão principal, na minha opinião, é que qualquer estratégia implica escolhas que prejudicam alguns interesses. Estive envolvido na criação de um plano operacional de promoção dos vinhos portugueses no estrangeiro para a viniportugal e poderia contar historias edificantes sobre o assunto.

        Como a estratégia é uma arte difícil, do ponto de vista intelectual e político, substitui-se no discurso público por merdas e chavões como o “viver acima das possibilidades” ou as “políticas de crescimento”. A nossa classe politica não vale um chavo.

      • O livro não aborda esse aspecto. Na entrevista que deu ao Expresso, ele próprio reconhece, a dada altura, que não domina o tema.

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