Monthly Archives: Novembro 2012

O único narco-estado da Europa (II)

Depois de muitos textos ( revistas e blogues) e um livro ( graças ao  financiamento da FCT), fui desistindo de chover no molhado.  Nunca consegui interessar um jornal para uma série de artigos  sobre o assunto ( colaborei com o Público e com o “i”, mas noutras áreas) . O Expresso, por exemplo, só está interessado em publicar as  banalidades proibicionistas de Pinto Coelho. Duvido  que consiga cativar uma editora ( fiz uns contactos exploratórios na altura da minha ligação à Bertrand/Quetzal, mas debalde). Este ano ainda tentei um blogue, mas quase  só tinha os leitores que vinham via Corta-Fitas e nenhum debate nem contraditório.

A maior apreensão de heroína dos últimos quinze anos, e esta, já de outra dimensão, na qual, segundo o Correio da Manhã, estava envolvido um português de nome  Ferreira Marques, que seria o retalhista.

En esta organización internacional de narcotraficantes, había colombianos y un portugués, además de los argentinos, uno era el “químico” que se encargaba de “transformar la droga cromáticamente”, detalló el funcionario.  La última operación que iban a realizar consistía en enviar 357 kilos de cocaína negra distribuida en carbón vegetal en barcos y aparentemente, se iba a realizar una escala en Brasil y el destino final era Lisboa, de donde sería oriundo el líder de la banda”.

Um das coisas fascinantes na História proibicionista  ( porque há outra)  das drogas é a sua capacidade de adaptação. Quando os turcos  deixaram de fornecer os sicilianos que alimentavam a French Connection marselhesa( a bem dizer, siciliana) , imediatamente a Birmânia se chegou à frente.  Quando, nos anos 80,  os EUA ( cheios de má consciência),  financiaram os crop erradication programs  da ONU na Birmânia, logo os   americanos  ( incrível, não é?) se lembraram de montar uma bela operação na fronteira  afegã-paquistanesa: os mujahedin anti-soviéticos pagavam as armas com pasta de ópio e o Afeganistão tornou-se o maior produtor  mundial  de ópio.

Portugal cabe numa categoria à parte: a de entreposto, nunca de produtor. Veremos  as diferenças.

FNV

As palavras e as coisas

Um dos factores de perturbação do actual momento político, e não dos menores, é a desordem que vai na cabeça do Primero-Ministro. O problema não está apenas no relativo vazio que aí impera: está em que, quando lá entra um móvel novo, Passos não sabe como arrumá-lo.
Por isso, sempre que se pronuncia sobre algum tema importante, ninguém sabe ao certo o que quer dizer. E passam-se dias ou semanas a discutir o sentido das suas palavras, no audaz pressuposto de que tais palavras tenham um sentido, um propósito, talvez mesmo um pensamento, algo mais do que a primeira coisa a ocorrer-lhe à frente dos microfones.
Aconteceu com a defunta refundação do Estado, voltou a acontecer com a opereta em dois actos sobre o eventual fim da gratuitidade do ensino obrigatório. Matéria constitucional, note-se. Um pormenor.
Preparem-se, pois, para gastar o vosso fim-de-semana na hermenêutica da mística passista, ou da mista passística, ou no que ele realmente quis dizer e não disse, ou talvez tenha dito, ou não me perguntem que só vi o telejornal ontem à noite e também me pergunto se ele disse mesmo aquilo que todos ouvimos, enquanto o mundo tal como o conhecemos se desmorona aos bocadinhos.
Aliás, começo a acreditar que o homem é muito mais inteligente do que parece. Enquanto autopsiamos o que diz, nem reparamos no que anda a fazer.

PP

Subsídios para a descoberta da pólvora

Como se fosse necessário João César das Neves e Rodney Stark para  se saber da revisão  de alguma mitologia sobre a pérfida Igreja e sua relações com a ciência e  a justiça. Já nem falo em Maistre (  século XIX),  Himmelfarb ou Jonathan Sacks, basta-me o debate italiano.  Há muitos anos interessei-me pelo assunto por causa do ensaio que publiquei  sobere a história do ópio ( parcial). A questão prendia-se com as fontes  de Ginzburg sobre  os processos inquisitorias nos Alpes, o antecessor do LSD ( o claviceps purpurea) e o  sabat das  bruxas.

Bem, se quiserem, podem ler Viccardi e  Cammilleri ( O caso Galileu , 1984) do século passado. E este arquivo, por exemplo.

FNV

Maravilhoso / mundo novo /maravilhoso:

1) O governo apresenta o Jornal das 21h , da SIC-N,  e convida sempre o Mário Crespo. Tanto mais bizarro quando sabemos  que Crespo pediu emprego à RTP que o governo considera um sorvedoiro de dinheiro mal gasto.

2) Há deputados do CDS que votam o Orçamento  e declaram que não deviam votar.  Como o carrasco  que só tem vergonha que os vizinhos lhe conheçam a profissão.

FNV

Convite


(Clique para aumentar.)

Em geral, não comento os convites que aqui deixo, mas vou abrir uma excepção para este. Tenho muita curiosidade pelo tema, todos os intervenientes são pessoas que estimo, estou certo da oportunidade da iniciativa, mas sou céptico em relação ao papel que as ciências sociais podem ter na definição de políticas. A eterna tentação de ser o conselheiro do príncipe que assalta os intelectuais, como lembrava Aron, parece mais justificada quando os pequenos príncipes de turno enfrentam a tormenta da crise sem a bússola de uma ideia. O que não dá necessariamente aos académicos uma maior clarividência, garantida, supõe-se, pelo domínio da sua especialidade. Acredito mesmo que é saudável alguma distância entre a gestão do real e as abstracções dos “hommes de lettres”. E esta vem do Tocqueville, claro.
Dito isto, lá estarei – para concordar ou discordar.

PP

O estranho caso de Mário Claudio

“O escândalo suscitado, há dias, por uma intervenção de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, a exortar-nos à tomada de medidas de poupança como estratégia de combate à crise, desvenda pelo menos um clima de paixão colectiva, prejudicial à serena leitura dos factos”.
 
 
Mário Claudio devia recordar  aos seus  leitores que  IJ  não se imitou a dizer apenas aquilo. Tem-se desdobrado em entrevistas e disse , pelo  menos, mais três  coisas : duas generalizações que enlameiam toda a gente e uma previsão irresponsável e ilegítima. Assim:
 
a) As pessoas viveram acima das suas possibilidades.
b) As pessoas estão encostadas ao estado social.
c)  Quem está hoje desempregado e com 40-4 5 anos  nunca mais arranjará  um emprego à altura das suas qualificações.
 
Temos, portanto, que a paixão e  a leitura apressada  dos factos ficaram com Mário Claudio. Ao lado de  um tom gongórico e  paternalista.
 
FNV

O meu também não

Muito bonito. Eu tinha para aí uns dez anos quando escolhi o  Belenenses. Estava na sala a colar cromos dos azuis  e o meu pai passa por mim: És dessa porcaria?

E o Benfica entrou para sempre no meu coração sem penas.

 

FNV

Uma terra de brutos.

É aquela em que um tipo compara Voltaire a Hitler num jornal de referência e logo aparecem dez anõezinhos a demonstrar que o cotejo, bem vistas as coisas, tem a sua razão. Deixai toda a esperança em Ayamonte, ó vós que entrais.

Luis M. Jorge

O único narco-estado da Europa (I)

Devagar, devagarinho, sucedem-se os episódios. Nas muitas séries e artigos que escrevi ( o último foi na Ler)  fui dizendo que seria inevitável.  Um território que é um dos principais pontos de entrada de droga na Europa, e que está esventrado por uma depressão económica ordálica, põe-se a jeito.

Quando se conhece a História do narcotráfico, não é difícil acertar na previsão. Desde a  Prohibition que sabemos o que resulta da combinação de um mercado  vigoroso de um produto adictivo  e lucrativo com o seu estatuto de marginalidade face ao controlo social. Desde os anos  50 (  Turquia, Birmânia, Colombia,Irão, México, Paquistão, Afeganistão, Guiné )  que sabemos que, se a estes factores adicionarmos a pobreza, o resultado é uma sociedade corrompida.

Em S.Paulo:

De qualquer maneira, há claras distinções entre os dois fenômenos, mas alguns números são curiosos: no auge da guerra do narcotráfico, quando o estado de Chihuahua, onde fica Ciudad Juárez, se transformou numa região sem lei, as estatísticas chegavam a passar de 300 mortos por mês. No estado de São Paulo, a média mensal é superior a 350 mortes e supostamente estamos vivendo em paz.

FNV

Com as etiquetas

O momento mediático da semana.

Ocorreu quando Carlos Vaz Marques, perante a defesa de Nuno Santos protagonizada por Ricardo Araújo Pereira, comparou o ex-executivo da RTP a Armando Vara. Mistérios.

Luis M. Jorge

Não ponhas desse café

Se querem perceber a reflexão de Pascal sobre o prazer da caça, seduzam uma mulher casada ( lésbicas também podem brincar). Tal como não era a raposa que interessava, aqui também não é a mulher o alvo.  Até pode ser uma escultora sonora pró-Palestina, mas se for uma sefardita de fino trato, melhor. Em nenhum outro restaurante  se pode iludir  a ilusão como na sedução da casada. Os trabalhos a que ela se dá, sobretudo se mantiver uma  vida sexual regular com o marido, são agraciáveis. Por outro lado, a posse é reduzida à sua expressão mais formidável: um estado transitivo.

Amanhã continua o frio e há-de haver arcas salgadeiras à antiga, com o pernil coberto de sal de forma a que rato nenhum lá consiga meter o dente. Se não conseguires, fala com a Vânia, do Jumbo, que ela leva-to a casa.

FNV

Olha.

Afinal há restaurantes a mais no país, dizem deputados do CDS e do PSD. Suponho que também existem jovens qualificados a mais, estivadores a mais, reformados a mais, enfim, gente a mais — excepto deputados da maioria — mas não é isso que me traz aqui. Estou preocupado com o João Vilalobos, que se esqueceu de invectivar os nossos políticos com a tempestade perfeita que atravessa o sector da restauração. Mas se calhar a proposta de requalificar esplanadas é mais grave do que a intenção de fechar estabelecimentos. Ou mais liberal. Enfim, sei que o Governo é bom e António Costa é mau, de resto estou um pouco confuso.

Luis M. Jorge

A íntima urdidura dos aspectos processuais

Marisol acredita que as mulheres dão prazer mais depressa. É o que se pode designar como uma nova ideologia de eventos. Já perguntava Pamela Golden: Como se entra numa pintura?

Tenho andado arredado  de coisas  fundamentais e só eu posso explicar. Por exemplo, quantos grão de trigo fazem uma pilha de grãos de trigo? Cem? Certo. Vinte? Certo. Dez? Certo. Três? Sim. Dois? Também: dois corpos empilhados. Um grão? Não.Temos, portanto, que apenas um grão de trigo pode definir o conceito de pilha de grão de trigo. Este antigo paradoxo explica algo que deveis esquecer: não há triângulos amorosos.

FNV

Um mundo de ficção

Igual aos dos aparelhistas  sem vida e dos financeiros de vida cheia. Nem consegui ver uma peça sobre o assunto nos principais telejornais das nove .

Não me espanto por aí além. Já a nação agonizava e estes senhores e senhoras só abriam a boca para falar de LGBT, transgénicos e touradas. Há mais verdade num apedrejador social-fascista do que nestes  guias turísticos do país.

FNV

25 de Abril forever

Os capuzes dos  “manifestantes” também são por causa da” perseguição  policial”  ou os encapuzados foram” infiltrados”  por Godinho Lopes com o intuito de… ?

FNV

Catalunha não tão livre


A leitura mais frequente dos resultados das eleições na Catalunha, entre nós, é a de que ganhou a frente soberanista ou independentista. Somando os votos da CiU, que ganhou (embora passando de 62 para 50 deputados), da ERC, que ficou em segundo lugar (embora passando de 10 para 21 deputados), e de outros pequenos partidos pró-independência, temos cerca de dois terços dos 135 deputados catalães a favor de uma separação de Espanha.
É verdade, mas há um pormenor relevante de que ninguém fala. Enquanto o Partido Socialista Catalão, tradicionalmente autonomista, desceu de 28 para 20 deputados, o PP ganhou um deputado e, mais do que isso, reforçou muito a sua votação, passando de 387 mil votos em 2010 para 471 mil. Para efeitos de comparação, a ERC teve agora 496 mil votos (219 mil em 2010) e a CiU 1 milhão e 100 mil (1 milhão e 200 mil em 2010). Ou seja, o voto conservador fugiu da CiU para o PP, enquanto a ERC cresceu à custa dos socialistas.
O que representa um aumento da clivagem entre os que querem a independência e os que querem manter as coisas como estão. Ora, um dos factores de sucesso do nacionalismo catalão era o seu discurso moderado e gradualista, garantia de apoio do centro político. Apesar do forte movimento operário e de alguns episódios pouco edificantes na Guerra Civil, repartidos entre anarquistas e vermelhos – a vandalização da catedral da Sagrada Família, por exemplo-, a autonomia catalã foi sempre uma exigência burguesa, não violenta e cosmopolita. Ao contrário do activismo basco, paradoxalmente mais ligado aos extremos (de direita no século XIX, com Sabino Aranda e outros nostálgicos de um Euskadi medieval não contaminado por mouros e castelhanos; de esquerda no século XX, com os republicanos, os católicos progressistas e os marxistas da ETA). Ter uma literatura escrita com quase mil anos também ajudava, além de velhas relações com o Sul de França e as ilhas mediterrânicas (outra diferença em relação aos Bascos, com uma identidade regional mais distinta, mas também mais isolada, ou mais distinta porque mais isolada).
Talvez a clivagem seja apenas conjuntural. Talvez o fenómeno ERC seja apenas como o Syriza na Grécia: um produto da crise. Mas, se não for, a sociedade catalã sai mais dividida da aventura, com um bloco de meio milhão de eleitores a votar no PP, em princípio espanholista, outro meio milhão a votar na esquerda radical, em princípio independentista, e o milhão da CiU no meio, em equilíbrio difícil. A ex-Jugoslávia não está assim tão longe.

PP

Podem ler

Está á venda . A Ilha, de Sandor Marai ( livro do dia na TSF), mais um,  das  centenas de escritores,  que era proibido nos paraísos da liberdade socialista.

FNV

Wallace-Fiama

Ela parece mais perto dos pré-rafaelitas do que de Wallace Stevens e é  tão ou  mais copiada ( os pássaros, a luz, o ouro,  a alegoria etc) pelos preguiçosos do que Eugénio de Andrade. Ela é uma Bimby da poesia portuguesa, ela é torrencial. De vez em quando  encolhe-se e acerta tão bem que quase me comovo ( de Entre  os Âmagos, 1983-1987), sobretudo com o aviário:

Dias de vida antiga

diante do aviário. O mais difícil

nos dias vivos

era pensar na outra vida

da morte.

Stevens ( Notes Towards a Supreme Fiction, 1954) , sobre a ordem,  numa variação ex nihilo  de Fiama:

To discover winter and know it fell, to find,

Not to impose, not to have reasoned at all,

Out of nothing to have come on major weather

FNV

Antena islâmica

1) Em Marrocos, grão  a grão.

2) Na Nigéria, uma luta perdida.

3) Na Suiça: “Segurança Nacional” mas não é na Fox.

4) Em França: uma mesquita para gays ( ui… ui…)

 

FNV

AI, SE FOSSE NO TEMPO DO SÓCRATES (2).

O Miguel Abrantes, como peixe na água desde que chegou à oposição, faz a fineza de divulgar um relatório do Citigroup intitulado Global Economic Outlook and Strategy – Prospects for Economies and Financial Markets in 2013 and Beyond.

Para resumir a coisa, eis um quadro em que se assinalam as previsões dedicadas a Portugal:

Nao sei se estão a perceber. O Governo prevê no Orçamento de Estado a retracção de 1% do PIB em 2013 depois de ter passado ano e tal a prometer a retoma ao virar da esquina. O Citigroup discorda educadamente, e propõe-nos uma queda de 4,6% — quase cinco vezes mais, quase um vigésimo da riqueza nacional.

Por menos do que isto já vi a nossa direita defender a criminalização do exercício de cargos políticos. Mas era no tempo do Sócrates. Hoje existe uma lamentável falta de consenso em torno dessa ideia cada vez mais ajuizada.

Luis M. Jorge

Perder tempo

Passos Coelho já veio dizer que não vale a pena “perder tempo com a revisão constitucional” porque o PS não quer e, sem o PS, não se pode fazer nada. Só se surpreende quem vive em permanente expectativa do apocalipse.
Por mim, já aqui tinha previsto que a famosa refundação do Estado se resumiria a um número de circo. O Governo envergava as gloriosas vestes de refundador de qualquer coisa, a oposição opunha-se, uma fatalidade que até com Seguro corria o risco de estar garantida, e a nação choraria durante dois minutos e meio, entre a furiosa hermenêutica da dra. Isabel Jonet e a não menos furiosa hermenêutica do último caso da bola, mais uma oportunidade perdida de singrarmos o caminho do progresso.
Note-se que o número também dava jeito ao PS, que assim emergia durante uns dias da sua apagada e vil tristeza como irredutível defensor do Estado social, dos direitos adquiridos e das “conquistas civilizacionais”, nas quais ninguém pode tocar sob pena de regresso à barbárie.
Todos tiveram o que queriam.
Perder tempo? Sem dúvida.

PP

Erdrich.

A senhora recebeu o National Book Award de 2012 com um romance que ainda não li. Mas esta colectânea de 500 páginas em capa dura estava perdida na FNAC por seis euros e tal, um desconto justificado pela ausência de  virgens seviciadas por milionários novas-iorquinos de falo erecto e entumescido. Sendo assim, estou a gostar muito.

Luis M. Jorge

 

Esperem pela volta do correio

Quando o pessoal receber o primeiro salário e as primeiras pensões   de 2013, o parlamento, dirigido por uma reformada aos  42 anos,  e o pessoal em geral  vão  ver o que é o “simbólico”.

FNV

Espectacular T1 com terraço privativo

Raimundo exercia o cargo de arquivista-paleógrafo da Faculdade de Letras, mas os cortes no orçamento impeliram-no a procurar uma dieta alternativa. Conheceu  Sónia Renata, uma  aprendiz de hipnotismo mamilar, que lhe falou dos mirtilos. Partiram para a Cova Beira numa expedição  bem orientada, interrompida  por Ângelo Correia, que os informou  ser necessário gente para trabalhar na agricultura. “Por amor de Deus!, exclamou o engº.

Por falar em deuses. O que é o socialismo?, perguntava Antero, em  1871. E respondeu: “É o protesto dos que sofrem contra  a organização viciosa que os faz sofrer” . A História deu-lhe razão. Impressionante  antecipação.

FNV

Uma estucha

A democracia burguesa. Também gostei da TSF: durante toda  a semana foi uma  infindável e martelada variação de  “uma  futura Catalunha independente”, hoje foi: “Artur Mas perdeu”. Seco e conciso, como manda o bom jornalismo.

 

FNV

Doces domingos.

1. Na Madeira, o primeiro-ministro revelou-nos que os se queixam mais da austeridade são os que estão melhor. Supondo que Passos Coelho não se referia ao estado de saúde dos portugueses, podemos deduzir que os focos de insurreição contra o Governo provêm dos mais ricos, dos mais educados, dos mais urbanos e dos mais informados. O que talvez deixe a sua base de apoio reduzida aos pobres, analfabetos, campónios e alienados. Isto surpreende imenso.

2. Por falar em base de apoio, vale a pena conhecer a investida de João Vilalobos no Forte Apache contra o ordenamento das esplanadas lisboetas liderado por José Sá Fernandes. Indignai-vos alfacinhas: parece que a nossa autarquia não deseja cadeiras de plástico nem tapa-ventos na rua Augusta. Numa manobra vil e homicida, a vereação espera obsequiar os turistas com esplanadas de boa qualidade, limpas, com mobiliário decente, sem fancaria. O João Vilalobos está contra e invoca a tempestade perfeita que atravessa o sector da restauração para nos recomendar o apedrejamento de António Costa. Como é evidente. Afinal, de onde veio a tempestade perfeita?  Da câmara. Quem aumentou o IVA? A câmara. Quem provocou milhares de falências? A câmara. Quem deve ser penalizado? A câmara, em suma.

Luis M. Jorge

Terra mau-mau

S. Miguel de Acha, quatro GNR baleados.

Por acaso tirei lá fotografias para o Mau-Mau.

 

FNV

Nadar no ferro – blogue terapêutico ( VI)

Continuando com os casamentos ( ou as longas relações, para o caso é igual).

Digo muitas vezes que o casamento é anti-natural, ou seja, é um acto da cultura. Os mosquitos e os tubarões não casam, os neandartais  também não se metiam em tais veredas. Sendo assim, uma longa relação , com filhos, é uma  expressão cultural, construída, uma  rebelião contra os  instintos. Estes podem ser muitos: querer mais parceiros  sexuais e fundar novas famílias, não conter  a frustração, desesperar  diante de mudanças ambientais desfavoráveis etc.

Na linha do post anterior, i.é., não incluindo terramotos, as cidadelas do casal  têm de ser  negociadas. Uma  pergunta  que faço sempre, a cada um deles, é : O  que vale para si o seu casamento? Quando me dizem que vale muito, confronto-o /a com o muro de lamentações que desenvolveu. Pedra  a pedra, valem mais do que o casamento? Se valem, conversa acabada.

Quando a relação vale mais do que as zonas inegociáveis, estamos  num impasse. Uma vez  ajudei um casal que stava a separar-se fisicamente. Ele tinha ido trabalhar para o estrangeiro e a coisa corria-lhe  muito bem. Ela ficou cá, com dois filhos e um emprego mal pago. A  relação começou a azougar: desconfianças, da parte dela e  dificuldade em gerir os períodos em que ele vinha ( de três em três semanas), da parte dos dois. Ela sentia que tinha de estar bem disposta e sexualmente disponível “por marcação”, ele achava que estva a fazer um esforço,  “não reconhecido”,  pela melhoria ( espectacular) da qualidade de vida  da família.

Sugeri a mudança da família para o estrangeiro, para a cidade onde o marido trabalhava, porque me pareceu  a única possibilidade de nivelar o casal. Ela mostraria  o valor que dava  ao casamento, ele compreenderia que a relação só faria sentido se estivessem juntos, participando com mais do que transferências bancárias.

Aceitaram. Ainda lá estão, por enquanto, felizes e contentes.

FNV

Com as etiquetas

“De meias , num chão gelado”

O relato de uma  mulher inocente  detida em Monsanto,  durante duas horas, no passado dia  14.

Um relato apresentado como  objectivo e descomprometido ( só tinha ido ver o Arménio Carlos), onde  os polícias  são classificados  como “cães raivosos, mercenários do Estado que vestem a farda da ditadura em vez de protegerem o povo!”.

Só de pensar que este relato serviu para tipos que ainda hoje se assumem estalinistas ( linkei alguns  no outro dia) se babarem perante “a repressão brutal”, faz-me sentir optimista e confiante num futuro melhor.

FNV

A leste nada de novo?

Jerónimo de Sousa dá hoje uma entrevista ao Público e pisca o olho ao PS: “Admito que haja diferenças entre Seguro e Sócrates”.
A caminho da coligação?
Uma pista. Perguntam-lhe, depois de ele repetir fielmente a cassete das “políticas de direita” dos socialistas, se “o PS é hoje mais próximo da direita do que da esquerda”. Resposta: “é um partido que pratica uma política de direita”.
Note-se o ligeiro matiz. Não é um partido de direita, mas um partido que pratica políticas de direita. Coligar-se com um partido de direita seria impossível, para o PCP. Mas as políticas podem mudar. Sobretudo quando muda o líder.

PP

A oeste nada de novo?

Já sabíamos que este Governo tem uma relação muito peculiar com os jornalistas e a liberdade de informação. As histórias do cacique Relvas entraram para o anedotário nacional. Mas devíamos levar a sério o caso do pedido de imagens às televisões, como levámos a sério as pressões de Sócrates sobre Manuela Moura Guedes e Mário Crespo.
Primeiro, porque a maleita contagiou um ministro que, apesar do deslize da cigarra e da formiga, parece ter uma estrutura intelectual superior à de Relvas. Ou seja, que parece ter uma estrutura intelectual. O facto de tutelar as polícias não nos deixa mais descansados.
Segundo, porque se repete um padrão preocupante de desrespeito pela liberdade jornalística no núcleo duro do Governo. Em Relvas ou Passos, que mais uma vez plana alegremente sobre isto como se não tivesse qualquer responsabilidade pelo que fazem os seus ministros, podemos atribuir a coisa a um entendimento instrumental da política e, portanto, da democracia. Gente que, na vida profissional, acredita que todos os meios são legítimos para atingir os fins, não tem mais escrúpulos na vida pública. Mas custa-me ver Miguel Macedo associado às práticas do gang.

PP

Língua de pau

Elza Pais,deputada do PS,  “especialista em violência doméstica”,  que presidiu ao IDT (  a agência que coordena o tratamento da toxicodependência) , porque o aparelho dos partidos do arco da governação é assim, está na TSF a elogiar o que fez em 2009 em matéria de violência doméstica.

A sério. E na habitual lalangue de pau.

FNV

Grande Ratzinger

Conseguiu pôr a vertikal ( vai do mentor  ao humorista, passando pelos colunistas) estaurofóbica a defender o presépio tradicional  com a vaquinha e o burrinho.

FNV