Monthly Archives: Maio 2013

Minimalia ( LVI)

As poucas solteironas encalhadas que  ainda sobrevivem são uma espécie de tolas a a proteger.

Resquícios edipianos, agora que Édipo está com pulseira electrónica.

FNV

 

Com as etiquetas

Do Maio de 68 ao Maio de 2013

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Volto a França. O que me surpreende, quase meio século depois do Maio de 68, é que as posições parecem inverter-se. Os conservadores manifestam-se nas ruas e os progressistas batem-se por uma instituição burguesa. Tanto tempo depois, “l`imagination au pouvoir” é agora “le mariage pour tous”. Talvez porque, “au pouvoir”, “l´imagination” aspira a tornar-se respeitável. Os que ontem defendiam modos de vida alternativos, hoje eles próprios na década dos 60, querem que o amor seja reconhecido no papel. E a revolução? E a praia da utopia sob a calçada do conformismo? Quem disse que a família tradicional está em crise?

PP

Se não sabe por que é que pergunta?

Também acho estranho, muito estranho,  não haver sondagens sobre o assunto do momento,  quando    o povo todo quer eleições. Não acham?

 

Adenda: o Mr.Brown disponibilizou as sondagens: estão na caixa de comentários.

FNV

Inscrições

As claques governamentais, pressuponho da direita nova, também sabem, como as da oposição,  ser   insultuosas. Usam é menos  o vernáculo.

As classificações  sexuais,  e do comportamento moral  das mães do outros,  ou os diagnósticos neurológicos de tasca? Escolhe  e inscreve-te.

FNV

8.

Os meus colaboradores (é assim que temos de chamar aos neuróticos nos departamentos criativos) ofereceram-me isto:

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C’um caneco. Vou mudar o nome para Gil de Vilhena e fazer apologias da família tradicional.

Luis M. Jorge

Mesmo muito estranho

Secundo ( não tresler) o meu camarada Pedro Picoito:

1) Os pequenos  génios discretos parece que estalaram o défice aos 8%  enquanto ratam a reforma do tio Asdrubal para controlar… o défice.

2) MFL já não é uma velha taralhouca provinciana , Bagão  Félix já não é  um rato de  sacristia sabujo do grande capital, Rui Rio já não é   um pobre diabo inculto, já não se fala no JPP da Marmeleira, que agora  é citado todos os dias no Câmara Corporativa. Não eram pessoas que estavam “erradas”, eram ratões  inaproveitáveis, notem bem.

3) No Largo do Rato cheira a queijo? Pois cheira. E a mofo.

4) O Pedro Lomba foi ao engano . Coitado, é normal, Miranda Calha  é um Matusalém disto.

FNV

Algo de muito estranho se passa

… para os lados do Rato, quando Soares  e Pacheco Pereira sáo a verdadeira oposição.

PP

Evidentemente.

os que merecem, os que preferem o trabalho aos subsídios, enfim, os que podem reembolsar. A menos, é claro, que para salvarmos a imensa virtude dos pregadores sejam necessárias receitas cipriotas. Nessa altura acabam-se as metáforas.

Luis M. Jorge

Alegria e tristeza.

Enquanto Mário Soares, aos oitenta e oito anos, envergonha ainda a torpe geração de gnomos que lhe sucedeu, o Porto mexe-se  e Pacheco Pereira transforma-se no rosto da decência que nos resta. Será um 10 de Junho intrigante para Cavaco Silva, a sua Maria e as alminhas funestas da pequena corte de Massamá

Luis M. Jorge

Meteorologia do povo

O dr. Soares insiste e devemos ouvi-lo. . Em 2004 previa um golpe militar se não estivéssemos  na  UE  porque havia muita corrupção e o povo não aguentava mais .  Depois,  inexplicavelmente,  o povo  e a corrupção acalmaram. Agora avisa de novo que já mataram um rei por menos, que o povo vai tornar-se violento etc..

Estou convencido de que  daqui a dois anos  povo acalma outra vez.

FNV

Rigor, coerência, rumo

Os pequenos  génios discretos escolherão para  a CGD  ex-ministros  do governo de  Sócrates, o tal que “afundou o  país, “chamou a troika”  e pôs os pequenos  génios discretos no poder. De certa forma, tem lógica.

FNV

7.

Music Box from subBlue on Vimeo.

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Luis M. Jorge

Aprender a decidir

Em tempos normais e em tempos dificeís. No Depressão Colectiva.

FNV

Da série “O som e a fúria”

Sem tempo para mais, chamo a atenção para a entrevista que António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, deu no Domingo à revista do Público. Simplesmente notável. Aqui ficam alguns excertos a que espero voltar.

Nos últimos 30 anos, houve uma democratização, uma expansão do ensino. Mas como se percebe hoje por muitos discursos de pessoas das áreas governamentais, e não só, que dizem que há diplomados a mais, ao fim de 30 anos já estamos cansados. Os outros países andam a fazer este esforço há 300 anos. Na área da escola e da ciência, o valor mais importante é o da continuidade. Em 1995, António Guterres disse que queria que a educação tivesse 6% do PIB. Na altura havia um consenso na sociedade portuguesa de que o nível de investimento na educação era muito inferior ao dos outros países. À direita ou à esquerda ninguém criticou este aumento do PIB. Nos cinco anos seguintes o PIB foi aumentado  para quase 6% [sic]. Mas a partir do ano 2000 começa a ver-se tudo o que são opinion makers no país a dizer “estamos a gastar de mais em educação”, “o país não aguenta tanta despesa em educação”. Bastaram quatro ou cinco anos a fazer um investimento próximo da média europeia para que o país ficasse cansado.

(…)

A universidade faz mal o seu trabalho quando estreita os estudos universitários num sentido excessivamente profissionalizante. Isso retira instrumentos às pessoas. O que dá a maleabilidade de mudar de vida, de emprego, de fazer diversas coisas, é a capacidade de pensar, de conhecer, de obter informação. Se a pessoa não tiver isso, até pode ter emprego durante uns anos, mas à mínima mudança fica sem os instrumentos para uma renovação da sua vida profissional. Parece um paradoxo, mas quanto mais insistimos em visões estreitas menos empregabilidade estamos a dar. Isto é claríssimo quando se fala com grandes empresários, que não têm dúvidas nenhumas de que querem pessoas que saibam pensar, que tenham boa formação, que sejam articuladas, com criatividade. O gesto profissional concreto, isso a universidade não sabe fazer, tem que ser feito nas empresas.

(…)

A questão que temos pela frente é saber se queremos elevar a estrutura produtiva ao nível dos diplomados que já vamos tendo ou se, ao contrário, queremos baixar a nossa aposta no conhecimento e pô-la outra vez no rés-do-chão da vida onde está a estrutura produtiva portuguesa. Essa décalage existe e explica muito dos problemas do desemprego jovem, mas temos de saber o que queremos. Estamos ainda muito longe da média europeia em número de diplomados. A estratégia da Europa 20/20 aponta para um mínimo de 40% de diplomados entre os 30 e os 40 anos, há muitos países europeus que já ultrapassaram essa meta e Portugal tem cerca de 25%.

PP

P.S.

Só espero que António Nóvoa não me desiluda quando for Ministro da Ciência…

PP

Uma coisa má e uma coisa boa

Ei-las:

A má:

Casar sob medidas de segurança.  Ainda bem que sou um conservador rafeiro. Gosto de convervar coisas boas,como, por exemplo, o direito  a uma pessoa perseguir a sua felicidade quando ela não belisca  a de ninguém ( casar, enriquecer, educar os filhos onde se quer etc).

A boa:

Um relato objectivo  da provocação às forças de segurança. Tão raro, não é?

FNV

Hummmm…

Este Papa  é uma dádiva.

Cuidado, dr. Soares, está a um milímetro da invocação do milagre. Depois tem o beau monde todo às canelas.

FNV

Benfica: a hora negra ( Parte I- a cultura)

A cultura de um organismo  que compete por recursos é  a base da sua sobrevivência.  A teoria ecossistémica das organizações aplica-se  a partidos, exércitos…clubes. Clausewitz ( muito mais filósofo e psicólogo  do que militar) , que desde o Mar Salgado gosto de trazer à liça, também. Qual é a cultura actual do Benfica? Com pena escrevo: o Fc Porto. Qual o resultado dessa cultura?  A derrota sistemática  ( dois  títulos em 20 anos).

1) O FCP  definiu a sua cultura a partir de 1977. Eles dominam isto, temos de ser unidos, agressivos e implacáveis na resistência.Quando perdemos é porque eles  manipularam, quando ganhamos  é contra tudo e contra todos. Simples. Esta  cultura assenta  numa velha mitologia psico-política. O pressuposto bioniano do inconsciente  colectivo do Messias e  o fantasma do inimigo externo. Produção: um líder eterno sobredominador e um mandamento indiscutível: não podemos  baixar os braços  por um segundo. Como resultado, o FCP produziu uma cultura homogénea que permite, por exemplo, adaptar jogadores  recém-chegados imediatamente ou integrar adjuntos de segunda linha  logo no início de época  e fazer deles treinadores principais titulados (  aniquilando a treta do “projecto” e da “estabilidade”). É-lhes dado um pacote identitário pronto a vestir, as regras nem se discutem, os objectivos idem. Vencer ou vencer é o brasão.

2) A cultura  do Benfica tem sido o oposto. Não pode imitar o rival, que já ocupou o imaginário do resistente contra o domínio de Lisboa,porque é de Lisboa e arrasta a imagem de maior clube nacional. Não pode  deixar de erigir o rival como dragão temível porque ele ganha  no plano nacional e internacional. O que fez então? O que fazem todos os sitiados desorientados. Dispara em todas as direcções , recruta à pressa,  persegue ofegante  um sonho de vitória.  Quando consegue ganhar uma batalha, começa tudo de novo ( assim foi com Toni e com Trapattoni) ou deslubra-se ( assim foi depois da primeira época de Jesus).Com o tempo, instalou-se uma cultura paradoxal de inferioridade: queremos  ser como eles, eles, que nos derrotam sempre.

3) O que fazer? O FCP não conseguiu imitar o Manchester e tornar-se um clube nacional ( veja-se  a pífia festa do título e o recuo de  Carlos Abreu Amorim aterrado com a perda dos votos dos  magrebinos  de Gaia). porque preferiu esgotar o modelo cultural a arriscar alargá-lo, mas não só. Não conseguiu porque o Benfica ainda tem um atributo extraordinário que é a sua implantação no terreno. Este atributo deve ser a base da cultura do Benfica.

Infelizmente, o Benfica não o usa. Dois aspectos seriam essenciais para o potenciar:

a) Intransigente matriz identitária. Significa isto que nos  cargos de topo têm de estar benfiquistas. Na base ( quadros intermédios, maioria do quadro de jogadores), idem. Por pureza de raça? Não. Por inteligência. Quem dirige uma organização cujo principal  atributo é ser o maior  símbolo nacional , mas   que está numa longa situação depressiva e culturalmente abastardada,   tem de transmitir a ideia de que existe um escol  que vem de dentro do clube. Ou seja, que a força para inverter a situação nasce do orgulho  e não da inveja.

b) Reformulação do posicionamento no ecossistema. Defendo o reatamento das relações com o  FCP e , até, da troca de jogadores ( o xito já não existe, as regras são hoje limpas) . Um comando confiante não teme o adversário,  derrota-o. A exaustão  causada pela  luta mediática e pela contratação de jogadores distorce o prisma. Onde pensamos  vencer, perdemos. Veja-se a transformação semântica do campeonato “sujinho, sujinho “em”bela vitória na mais disputada liga dos últimos  anos”, veja-se a descoberta  de talentos para os quadros do FCP. A mentalidade  merceeira é óptima para mercearias, ou para negócios de pneus, mas não nos serve ( se Falcao era fabuloso, não se recuava no último minuto por causa de um milhão, quando depois  gastamos  o triplo em recrutas de bairro).

( cont.)

FNV

Bem, já que falam nisso.

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Tenho assistido ao debate da co-adopção com distanciamento, por uma espécie de ennui de que padeço quando muita gente polemiza sobre matérias que me parecem resolvidas. Mas suponho que não virá mal ao mundo se aqui escrever aquilo em que acredito.

1. O longo combate pelos direitos civis dos homossexuais é tão justo como os movimentos que desembocaram na extinção da escravatura ou no voto das mulheres. Como tal, tem de ser encorajado e protegido.

2. Uma democracia madura não admite a discriminação sexual. Sempre que possível, deve reconhecer as famílias como as famílias se reconhecem. As excepções, e não sei escrever isto de outra maneira, serão as impostas pelo tabu.

3. Nem todos os casais estão preparados para adoptar, sejam casais do mesmo sexo ou de sexos diferentes. Mas esta evidência não justifica que uma interdição legal recaia sobre um grupo abstracto de cidadãos.

4. Os casais homossexuais são mais volúveis do que os heterossexuais? São maiores os riscos de abuso ou abandono das crianças a seu cargo? Duvido. Mas será sempre esse o objecto de uma avaliação caso a caso.

A lei geral, nos direitos civis, não nasce da estatística.

Luis M. Jorge

Publicidade em causa própria

Cartaz - Seminário Construir a História medieval
Enquanto o IEM não me expulsa por negar o consenso científico, ou coisa que o valha, o que é difícil porque os historiadores têm o hábito de estar sempre em desacordo, organizo com alguns colegas um seminário sobre os novos desafios que a investigação recente coloca à história medieval portuguesa. Aberto ao público, terá lugar na próxima Quinta-feira. Vou falar sobre um tema que tenho trazido aqui ao Declínio, embora na perspectiva mais moderna das nações e da união europeia: os moçárabes como comunidade imaginada. O conceito vem de Benedict Anderson, obviamente, mas o cenário – que parece distante – é o da Reconquista lusitana. Vou tentar mostrar que a distância não é assim tão grande.
Fica o programa. (Clique para aumentar).

PP

Adopção gay: o filme continua

Sobre a causa fracturante do momento, deixo aqui um comentário que fiz no Corta-Fitas, com algumas mudanças e uma actualização.
O filme dos estudos sobre a coadopção gay, que agora corre no Corta-Fitas e no Jugular, é uma sequela do que tive a honra imerecida de protagonizar há uns tempos. Começou e acabou da mesma maneira, mas desta vez foi muito mais rápido. A primeira cena é igual. Alguém escreve uma evidência, por exemplo que os casais gays são mais instáveis ou mais promíscuos e isso desaconselha a adopção. Pedem-nos estudos científicos que confirmem essa evidência, que não passaria de preconceito. É um desafio legítimo, mas, se citarmos estudos a favor da nossa posição, segue-se a tentativa de descredibilização (cena central), que  pode ter duas versões: os estudos não são actualizados ou não têm peer review.
Se os estudos são actualizados e têm peer review, passa-se à cena seguinte: a tentativa de descredibilização dos autores dos estudos. Também aqui há duas versões: ou os autores têm convicções religiosas que os tornam homofóbicos ou não têm o reconhecimento da comunidade científica. As duas coisas estão geralmente ligadas. Não ter reconhecimento da comunidade científica significa, na linguagem do activismo gay, ser alvo de um processo disciplinar na ordem ou na universidade por “homofobia” ou ir contra o “consenso” da comunidade científica. Como aconteceu a Abel Matos Santos, alvo de uma queixa pública na Ordem dos Psicólogos por alegadamente se prestar a um papel “pouco digno e pouco sério”, segundo a Ana Matos Pires.
O objectivo desta sequência é impedir a circulação dos estudos contrários à adopção gay e reservar o estatuto de cientificidade para os autores que a defendem, como se só as conclusões a favor fossem científicas. O mecanismo mais eficaz para criar um falso consenso científico é a tomada de posição pública de uma associação profissional. O caso sempre citado é o parecer favorável à adopção gay da American Psychological Association (APA), em 2004. Apresentado como científico, trata-se apenas de uma moção, votada pelos membros da APA, em apoio das conclusões de um grupo de trabalho da APA chamada Gay, Lesbian and Bisexual Issues, formado por activistas LGBT com o objectivo de combater a discriminação sexual (leia-se: a discriminação de que supostamente seriam alvo os LGBT). As conclusões de um tal grupo de trabalho são previsíveis, mas são também o clímax do filme.
A adopção gay torna-se, assim, o único caso de estudo das ciências sociais em que só uma conclusão é possível – sob pena de processo disciplinar ou descrédito académico. A isto chama o activismo LGBT “consenso científico”, mas este consenso tem pouco de científico porque contraria a própria ideia de investigação: recusa o debate entre hipóteses e nasce do ostracismo do adversário. As associações profissionais e os departamentos universitários pró-LGBT são a nova Inquisição. Mas o fundamento do “consenso” é o mesmo: a eliminação de qualquer visão alternativa.
A partir daqui, e se insistimos em apresentar argumentos que põem em causa as APA e quejandos, resta o insulto. O filme aproxima-se a passos largos do fim. No meu caso, o insulto incluiu até os meus filhos (dei alguma luta e o verniz, ou o que restava dele, estalou por completo). No caso do Abel Matos Santos e do João Távora, o verniz estalou muito mais cedo e passou-se rapidamente dos estudos ao insulto. O verniz está cada vez mais fino. The end.

Entretanto, já que vi que pelo Jugular vai grande mágoa e nojo porque o meu comentário não condena o plágio de Abel Matos Santos a Rick Fitzgibbons no artigo do Público. Vale a pena esclarecer isto, não para que a Ana Matos Pires e o Paulo Pinto deixem de se entregar aos bons sentimentos (tarefa impossível, pelas razões acima expostas, e tão cruel como baralhar um miúdo do Ciclo Preparatório), mas em abono da verdade.
O plágio de Abel Matos Santos é lamentável, a qualquer título, e enfraquece a posição de quem o citou e defendeu, como eu aqui fiz. No entanto, o ponto central não é esse. O ponto central é saber se as conclusões de Fitzgibbons são ou não correctas. Um ponto que deixou de ser discutido assim que os defensores da adopção gay se agarraram à acusação de plágio. Compreende-se porquê: poupa-lhes o trabalho de debater o resto. De qualquer modo, não vale a pena lamentar o resultado. Se não fosse Abel Matos Santos a ser acusado de qualquer coisa, seria (e foi) Fitzgibbons. Ao que parece, o senhor pertence a uma associação que entende que a homossexualidade é reversível. O Paulo Pinto, com a sua capacidade de popularizar alta metafísica, chama-lhes os “alucinados da NARTH“, mas o que está em causa, no fundo, é saber se a sexualidade tem origem no meio, e pode mudar, ou se é uma tendência inata, e não pode mudar, ou se ambas as coisas, e como se relacionam. Assim resumida, trata-se da velha dúvida sobre cultura e natureza que ocupa a filosofia ocidental desde Descartes e Locke, para não recuar a Santo Agostinho e à questão da graça e da liberdade. Mas subtilezas para quê? Os profetas da indignação selectiva estão do lado certo da história.
Claro que, pelo caminho, haverá algumas partes gagas. No Jugular, que tão acrisoladamente se arvora em paladino da “academia” e da honestidade intelectual, escreve ou escrevia uma deputada para quem não é grave um Primeiro-Minstro mentir ao Parlamento. Quando ela o disse, não me lembro de grande “mágoa” ou “nojo” no reino da virtude. Nada. Nem sequer um postezinho, um vago embraço, uma tímida alusão. Problema meu, decerto. No lado errado da história, não via que Sócrates e Inês Medeiros estão acima de certas minudências exigíveis à reacção, como dizer a verdade na casa da democracia e tal. Já é mania. Ou “má vontade”, parece. É que, por estas e por outras, também não vejo de onde vem a autoridade do comité jugular para dar lições de ética. O mundo está perdido, é o que é.

PP

On essaie

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Na caixa de comentários do último post sobre Montaigne, o Filipe e o Miguel Serras Pereira dizem-me que, afinal, já há duas traduções dos Ensaios em português de Portugal, uma antiga de Agostinho da Silva e outra mais recente de Rui Romão, da Relógio d`Água (a que se vê na imagem). Infelizmente, são ambas parciais e não contemplam a passagem que nos tanto trabalhinho nos tem dado. Voltaremos à carga. Fica a minha surpresa por não haver entre nós, sempre tão francófonos, uma edição integral da obra e o meu alerta/pedido/protesto para que alguém trate disso. Alguém com um francês melhor que o meu, entenda-se.

PP

Esperança

Estava  a ler o destaque que o Luís  fez sobre o artigo de Alberto Gonçalves, um dos tais  puros do brasão conservador,  e resolvi acrescentar uma nota de rodapé  aos dois  textos que escrevi sobre o assunto.

A menos  que queiram impedir solteiros de adoptar ou, em alternativa,  deixá-los adoptar e depois ir com um polícia a casa do suspeito  para verificar  se  há relações sexuais & pessoais  duradouras ( as pessoais)  com  um parceiro do mesmo sexo , hipótese que lembra  inspecção que os Guardas  da Revolução faziam  na China às casas das pessoas ( os gatos e as flores eram contra -revolucionários), não vejo para onde caminham os conservadores  de raça certificada.

Como sou um arraçado na matéria, atenho-me a um bom princípio anti-utópico: o da realidade. Partindo daqui, o meu conservadorismo arraçado assenta na tentativa de manter o equilíbrio da equipa nas transições ofensivas. Por exemplo, um grande  debate sobre como funciona a adopção e como estamos  de dignidade nos entrepostos de gâmetas e embriões.

Outro exemplo e  bem sumarento.  Discutir  os efeitos reais  da parentalidade gay  em aspectos até agora  pouco analisados. Por exemplo: o que acontece aos biblícos estudos psicanalíticos,  montados   nos anqueos da  parentalidade  heterossexual, como os de Melanie Klein e WR Bion ( seio, seio, seio) ? Tanto ( e tanta)  sibarita que durante todos estes anos  fez de teses destas a doutrina que explica  tudo e mais um par de botas…

FNV

O crepúsculo da imprensa (4).

Alberto Gonçalves a propósito de “causas fracturantes”:

os argumentos que sustentaram (digamos) a recente proposta de co-adopção por casais homossexuais tenderam para o sentimentalismo pelintra. Grosso modo, resumem-se no axioma seguinte: quem não está connosco é hipócrita e preconceituoso.

Óscar Mascarenhas, “provedor do leitor” do Diário de Notícias:

José Diogo Quintela, artista cómico atualmente circunscrito a ator de publicidade

No primeiro caso o autor caricaturiza grosseiramente os argumentos a favor da co-adopção para depois os “rebater”. No segundo caso, o árbitro da ética profissional do DN finge ignorar que o estatuto de José Diogo Quintela fora das páginas do jornal em que escreve é irrelevante.

Luis M. Jorge

Com as etiquetas

Então parece que

O entreposto comercial,  dirigido por um ex-sócio do FCP  e treinado por um sócio do Sporting ,  perdeu mais um troféu. Com  tamanho benfiiquismo , reforçado para o ano com uma camioneta de sérvios, só pode ser azar.

Seis milhões de avestruzes continuam satisfeitas. Muito bem, voltaremos ao assunto.

FNV

O crespúsculo da imprensa (3).

Outro lamento repetido ad nauseam nos jornais: “Ah e tal, ninguém fala da Europa”. Pois não. E, assim sendo, não seria melhor começarem?

O quadro que apresento em seguida foi exibido nos encontros de Davos de 2009, pouco depois do início da crise financeira internacional. Oito workshops em que participaram 250 executivos, reguladores, políticos e académicos permitiu traçar quatro cenários para a evolução do sistema financeiro até 2025:

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Os cenários partiram de duas variáveis determinantes (“key drivers”), muito incertas: o ritmo das transferências de poder económico, principalmente para a Ásia; e o grau de coordenação das políticas financeiras internacionais.

O primeiro cenário, “Re-engineered Western-centrism” (aqui mal traduzido por “Um novo eurocentrismo”, mas a minha vida não é isto), propunha a hipótese de transferências lentas de poder para o Oriente e uma coordenação harmoniosa dos responsáveis pelas políticas financeiras. Era o mais confortável para as empresas ocidentais.

O segundo cenário, “Um novo multilateralismo”, admitia transferências rápidas de poder acompanhadas de uma coordenação harmoniosa das políticas financeiras. Era exigente para as empresas,  mas controlável.

O terceiro, “Regionalismo financeiro”, conduziria à fragmentação em três blocos, com domínio crescente do bloco asiático.

O quarto cenário, “Proteccionismo fragmentado”, ensombraria os próximos anos do Ocidente: nacionalismo económico, baixo crescimento, o colapso da zona euro.

O Fórum Económico Mundial não fez previsões. Quase quatro anos depois, onde nos encontramos? E onde se encontra a nossa imprensa?

Notas:

1. O quadro aqui exibido e a explicação dos cenários foram retirados deste livro.

2. Para mais informações sobre a importância da elaboração de cenários estratégicos podem ler isto.

 

Luis M. Jorge

Com as etiquetas

O crepúsculo da imprensa (2).

À medida que se adensa a plebeização do comentário político, sobram os actores e desaparecem as instituições. Por exemplo, Cavaco. É incontestável que a sua personalidade colorida ofusca o circo do combate partidário, mas será verdadeiramente digna do cuidado de todos os nossos comentadores? Não haverá ninguém que se debruce, por exemplo, sobre o velho sonho de Sá Carneiro — uma maioria, um governo, um presidente — e daí retire um naco de prosa escorreita sobre as dificuldades que a Presidência enfrenta quando esse sonho é finalmente cumprido?

Luis M. Jorge

Com as etiquetas

Antero/ Hofmannsthal

Para um belo dia de sol, nada como dois  taciturnos. O vienense é cliente antigo destas minhas derivas,  Antero está sempre à mão. É  difícil  traduzir  um estado de alma dado à pieguice poética e ao marasmo  figurativo, mas eles sabiam da poda. O tom depressivo levado a sério consegue  produzir versos divertidos montados numa recompensa justa.

Hofmannsthal, Eu sou o outro ( 1891), tradução livre a partir do francês:

Vivo transfigurado no tempo que há de vir,

Sou o infinito dos possíveis.

Deves arder de desejo por mim

E não hesitar nem sonhar nem temer.

Antero, O Palácio da Ventura ( 1886):

Com grandes golpes bato à porta e brado:

Eu sou o Vagabundo, o Deserdado…

Abri-vos, portas d’ouro. ante meus ais!

FNV

Da síntese

O Vítor Cunha consegue dizer  em  apenas vinte  e três linhas aquilo para o qual eu  preciso de uma inteira  : A  (bela) Raquel tem um colar.

Vai daí, sob a pressão da síntese, não lhe ocorreu que às vezes há bolinhas a imitar pérolas. É, aliás, o mais comum.

FNV

Et maintenant pour quelque chose de complètement différent

essais_montaigne_9782011694812_72Voltando a Montaigne, recordo que pedi aqui a ajuda do respeitável público para traduzir esta pasagem dos Ensaios: “Nous ne sommes jamais chez nous, nous sommes toujours au delà“. Na caixa de comentários, há propostas do Daniel, do Caramelo, do Manuel M. e do João. O maior problema, quanto a mim, é aquele “chez nous“, que significa ao mesmo tempo “em casa”, “em paz”, “no presente” e “na presença de nós próprios”. Avanço uma nova hipótese minimalista: “Nunca estamos em nós, estamos sempre além”.

É uma frase de sabor pessoano, sugerida por um dos “Passos da cruz” do Pessoa ortónimo, o XIII, que reza assim: “Emissário de um rei desconhecido/ Eu cumpro informes instruções de além (…) Inconscientemente me divido/ Entre mim e a missão que o meu ser tem”, etc.  Parece-me uma suspensão semelhante entre o “além” que atrai o sujeito, o exterior em que se projecta, a “missão” que o impele quase contra vontade, e o seu interior, a consciência de si e do que o rodeia, o espírito reflexivo a que é arrancado pela imaginação do futuro. De resto, Pessoa aponta muitos caminhos a uma tradução de Montaigne em português (de Portugal) que, tanto quanto sei, ainda não existe. Fica a deixa.

Ah, e mais uma vez conto com o estimável público para melhorar, aperfeiçoar ou pagar em almoços no Gambrinus a hipótese sugerida. Merci.

PP

It’s the game, man

1) Uma dupla de excesso. Vieira, dez anos  presidente, dois  títulos;  Jesus , quatro épocas, um título.

2) A nova língua do balneário: o servinhol.

3) Naming. Do museu  do clube: Quase um Sucesso.

4) Como a águia Vitória fugiu, nova mascote: personalize a sua versão.

FNV

Menos o dr. Ricardo Salgado, atenção…

A elite portuguesa morreu toda em Alcácer Quibir.

Tenho um irnão que  se formou com 20 em matemática, foi para os USA e doutorou-se aos 26 anos, já é Prof há muito tempo na UC, dá aulas cá e em França, forma e tutela muita gente, lecciona  seminários  nos USA, publica nas melhores revistas  da área.

Não vos digo o que ele pensa  de chefes de claque como  MST, porque isto é um blogue de família.

FNV