Os meus compagnons de route, que vêm do anarquismo elegante (Dr. Vicente) e da esquerda festiva (camarada Jorge), anunciaram-vos a queda do Declínio com aquela displicência de modos própria dos filhos da igualdade. Mas eu, que sou um conservador e tenho em devido apreço os ritos tribais, digo-vos que tentes toda a razão em pedir um pouco mais de pompa e circunstância no encerramento da caverna platónica a que nos acoitámos. Assim a frio, à entrada do fim-de-semana e no meio de um temporal, não se faz a ninguém… Mas fez-se, e é mesmo o declínio e queda do Declínio e Queda.
O Luís vai à sua vida, o Filipe andará por aí e eu hei-de lê-los. Já os lia antes de os conhecer, continuei a lê-los quando nos tornámos amigos e tenciono manter leituras e amizades.
Dei pelo Filipe no Mar Salgado, onde ele escrevia – primorosamente – traduções de Marco Aurélio e sarcasmos sobre o Benfica. Fiquei logo fã, claro. Tempos depois, ele ridicularizou o “cheiro a Lepanto” de uns posts de direita, já não sei de quem (talvez do Acidental) nem porquê. Reagi nos comentários, muito veemente, e disse que o post não era digno do nível a que nos tinha habituado. Ele respondeu que não tinha paciência para quem nivelava os seus posts, ou qualquer coisa do género. Daí passámos ao insulto, depois à ameaça de duelo, por fim à troca de emails e, quando vimos as horas, éramos amigos.
Com o Luís foi ainda mais simples. Não me lembro como descobri o Franco-atirador, mas também me tornei um leitor compulsivo. Discordava do que por lá se escrevia, mas, caramba, o que por lá se escrevia era muito bem escrito. E eu perdoo quase tudo a quem escreve bem. Ou mesmo tudo. No segundo referendo do aborto, o Luís juntou-se ao Blogue do Sim, um frankenstein de bloquistas, socráticos e liberais, e eu passava por lá, resistindo à náusea, só para o ler. Perdemos nós, ganharam eles, ele abriu o Vida Breve, eu fui lê-lo para o Vida Breve. Um belo dia, encontrámo-nos nas escadarias de S. Bento em protesto contra a “asfixia democrática”. Aquilo estava cheio de passistas e vim-me embora depressa, não sem antes o conhecer pessoalmente. Trocámos telemóveis e umas semanas depois estávamos a almoçar na esplanada do São Carlos, ele a falar de Veneza e eu de S. Martinho do Porto.
O resto é história. Entretanto, e como já disse aí para baixo, ainda vos darei umas linhas sobre o Seis Nações e o Papa nos próximos dias. Não é o princípio de uma bela amizade, mas teremos sempre o Declínio.
PP