Qual direita ? (II)

Respondendo ao debate ocorrido nos  comentários ao   primeiro post:  uma direita  portuguesa não pode ter medo de falar em Deus, na Pátria e na Família, porque nenhuma destas categorias é incompatível com a liberdade, a democracia e  a tolerância. Antes pelo contrário.

1) Deus está presente na coroação do chefe de Estado britânico e na cerimónia de posse de  Obama. Deus , exceptuando para os pavlovianos ( que acreditam que os ateus  neandartais  eram pacíficos) e para os que juram  que a moral começou com Cristo (desprezando os meus amigos gregos ) , siginifica, numa telha da direita , um entrave  à omnipotência e solipsismo humanos.  Esse Deus  pode ser o das religiões  do Livro, incluindo Alá, mas pode ser outro qualquer.

2) A Pátria não é uma categoria xenófoba de marialvas ribatejanos. Está presente no discursos do PCP , nos cânticos das manifestações  dos indignados, nos apelos de Lula da Siva ao erguer o Brasil da pobreza. Pode ser uma categoria mal usada ( Estaline, em nome dela, matou dezenas de milhões) , mas pode também ser apenas uma defesa  da cultura e da autenticidade. Notem que as  descolonizações ( de vários géneros)   começaram  com os Fanon, continuaram   com os Edward Said ( a Pátria palestiniana e não só) e chegaram à  reparação dos crimes  cometidos contra  os aborígenes australianos. Aborrecido, não é?

3) A Família é muito importante, tanto assim que a principal luta da comunidade LGBT passa, hoje, pelo direito às famílias alternativas.  É uma forma de liberdade positiva bem utilizada e uma angariação de  laços de solidariedade independentes do Estado. Não por acaso, nos regimes de terror os familiares pagam sempre pelos crimes dos acusados.

Para depois a resposta ao Pedro sobre se  em Portugal é ou não um “problema de  pessoas”.

FNV

5 thoughts on “Qual direita ? (II)

  1. Miguel diz:

    OK, aceitemos o argumento. Isso cria-nos um novo problema. Sendo a Pátria e a Família conceitos com pergaminhos genuinamente progressistas e fracturantes (pontos 2) e 3) acima), respectivamente — em suma, conceitos bona fide de esquerda –, apenas restaria Deus, na melhor das hipóteses, como conceito distintivamente de direita. A resposta à pergunta “Qual Direita” (em Portugal) será então: Partido Clerical. Não?

    • fnvv diz:

      Esse estilo de dabate não me interessa muito. Por exemplo:
      a) não digo em lado nenhum que “a Pátria e a são Família conceitos com pergaminhos genuinamente progressistas e fracturantes”.
      b) Obama, que jura por Deus na tomada de posse, é o chefe de um partido clerical?

  2. […] Filipe explica-nos aqui que na perspectiva de uma direita pura e dura os conceitos de Deus, pátria e família em nada são […]

  3. vlx diz:

    Filipe, ser bem lido é muito difícil… ;-)) Parabéns pelo post.

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