E se lerem a execução orçamental verão os milhares de milhões de euros que são destinados às prestações sociais ( dois mil se não estou em erro). O lado negro? Está tudo no arame e há uma geração perdida: a dos desempregados de meia idade, “sem qualificaçoes profissionais”, os novos untermenschen.
FNV
Há meses que ando a ler coisas semelhantes a estas escritas nos relatórios do INE, mas cada vez que as cito por contraposição com o apocalipse descrito pelos jornais chamam-me cão de fila do Governo em vez de avaliar a informação tal como ela existe.
henrique pereira dos santos
prefiro Untergang
‘segue dentro de momentos
o AFUNDANÇO devido ao MONSTRO’
Caro FNV,
Existirão vários factores e eu “arriscaria” alguns:
– Existe alguma dualidade emprego privado – público (i.e. casais “mistos” em termos de emprego.
– Ainda (felizmente) temos uma rede de apoio familiar alargado (há muita gente a viver de dinheiro de familiares)
– Temos (e esta pode ser supreendente para muita gente) uma economia muito à base de micro e pequenas empresas. Mesmo o nosso tecido empresarial raramente passa acima da “media empresa”. Nestes casos, os “patrões” roçam ombro-a-ombro com os empregados e há um tendência natural (assente na boa e velha vergonha na cara) para alguma contenção salarial ou de rendimentos destes. Numa pequena mercearia ou café, o dono tira pouco mais que o empregado.
O último levantamentto popular contra São Bento que ultrapassou a distãncia regulamentar da escadaria, deu-se com a arraia miúda do Fernão Lopes; genuinamente popular, digo eu, não a dos dandys que saiam dos bares da moda junto às muralhas do castelo para incomodar os transeuntes com facécias. E mesmo assim aquilo foi uma operação de marketing bem montada pelo mestre de aviz e a sua gente. Das duas, uma: ou dai para cá nos tornámos uma espécie de cantão de genebra, ou gráficos sobre pobreza e desigualdade não têm nada a ver com revoltas ou faltas dela. Eu aposto nesta última. Aplica-se por cá a velha máxima do “quem está mal, muda-se”, não a de quem está mal, muda, e a malta sempre se tem mudado. Quem tem panelas de pressão, sabe como é com o vapor e a válvulazinha e para mais este é um pais que sempre apreciou uma boa sopa feita lentamente ao borralho, com uma chaminé com boa saida. Nós, por exemplo, temos muita saída e um dos paises para onde saimos, o que é engraçado, é um que tem maior risco de pobreza e em que a percentagem da população em situação de severa carência material é quase igual ao dos portugueses. A Irlanda. Diz o gráfico. Mas dizia noutro dia um tuga que para lá foi, todo gingão, que “com o mal destes, podiamos nós bem”. A bem da verdade, já o mesmo diziam há três ou quatro anos os brasileiros de pernambuco, antes de começaram a poupar um dinheirito para ir de volta. Portanto, eu gostaria de saber de alguém a razão para este fenómeno, incluindo a metodologia do estudo. Tentei descobrir, mas aquilo é pouco user friendly e a gente não pode pedir à malta de bruxelas uma friendness muito calorosa.
Nos comentários, ao post do Pedro Magalhães, são enumeradas algumas limitações dos indicadores.
Vale a pena recordar o que o Pedro Lains escreveu, em 2011, sobre a distribuição do esforço pelas classes de rendimento http://pedrolains.typepad.com/pedrolains/2011/12/austeridade-comparada.html.
E referir que no novo relatório http://ec.europa.eu/social/BlobServlet?docId=9809&langId=en as coisas parecem, não sou estaticista, por isso não sou peremptório, não ter mudado muito, em termos comparativos, quanto à distribuição da austeridade. Grécia e Espanha dão mais “pancada” à medida que o rendimento sobe vide figura 2.
Acrescento que, sobre a questão das pensões, há ortodoxos um pouco, digamos que, para o desalinhado com a linha oficial http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO307575.html?page=0.
Pedro Magalhães actualizou o exercicio http://www.pedro-magalhaes.org/consequencias-sociais-da-austeridade-respostas-e-mais-duvidas/, mas há várias dúvidas que ficam.
Para se perceber o que se passa por cá, é importante ir para fora, nem que seja virtualmente. Estava agora a ler isto aí em baixo: fala do Brasil, como podia falar de nós, lá diria o velho Gilberto Freire. Ai vai um bocadinho de lusotropicologia:
http://internacional.elpais.com/internacional/2013/12/31/actualidad/1388459018_030121.html