Uma modesta proposta



E se os miguelitos da petição contra Isabel Jonet fizessem qualquer coisa semelhante ao Banco Alimentar Contra a Fome? Qualquer coisa que realmente aliviasse a pobreza, sem esperar pelo Estado ou pela revolução, em vez de posts e petições? Vá lá, com a vossa sensibilidade social e a vossa experiência no terreno, não será difícil, pois não?

PP

41 thoughts on “Uma modesta proposta

  1. Caro Pedro: Porque raio Isabel Jonet e o Banco Alimentar hão-de estar acima da crítica e do escrutínio por parte dos cidadãos? Não é, por exemplo, por eu criticar uma decisão judicial que tenho que me fazer juiz e abrir um tribunal. Ou é? Ou será que por criticar um deputado ou um canalizador tenho que concorrer a um lugar na Assembleia na República ou aprender a substituir a canalização cá de casa? Não percebo que raio de doença é esta que não permite que se debatam certas pessoas e certas instituições. Era o que faltava…

    • henrique pereira dos santos diz:

      Pode-se debater, com certeza, mas convenhamos que não é isso que está a ser feito. As declarações de isabel jonet são do mais trivial que há, ditas por uma pessoa que claramente tem mais jeito para fazer que para falar. E têm por trás dela um trabalho que está farto de ser escrutinado e é quase unanimemente considerado excelente (pelos que beneficiam dele, pelos pares e por quem está de fora). E há um conjunto de pessoas que acham que Isabel jonet dizer o que lhe passa pela cabeça deve ser motivo para ser despedida (no sentido formal, ela faz trabalho voluntário) do sítio em que está a fazer um execelente trabalho. Qual é o debate aqui? E qual é o escrutínio que se pretende fazer? Se fala bem ou mal? Sim, fala mal, e daí?

    • ppicoito diz:

      Mas o que é que se debate com a petição? Não são as ideias: é o trabalho dela. Isto, vindo de quem não suporta o trabalho por causa das ideias, tira-me do sério. Pior ainda se vem de quem nunca fez nada de concreto para combater a pobreza, além de dar ao teclado e falar na esplanada. E só mais uma coisa: faz parte do teu conceito de debate chamar-lhe “meretriz da caridadezinha”, como faz o Arrastão?

  2. henrique pereira dos santos diz:

    Faça como o miguelito, espere sentado. É que nem para petições a coisa chega. Uma petição propagandeada em tudo quanto é jornal tem agora menos de 770 assinaturas e a página de facebook associada menos de 450 likes. Uma página de facebook quase clandestina de agradecimento a Isabel Jonet vai acima dos 950 likes. Independentemente do brilhantismo retórico, as pessoas distinguem bem o que lhes serve e o que não presta. Se não fosse assim Louçã (ou Portas) teriam ganho muitas eleições e Sócrates seria imbatível. Não vale muito a pena ligar aos pequenos lenines enquanto as pessoas que realmente estão na mó de baixo forem tendo que comer, como é o caso.

  3. Como contribuinte líquido e regular da generalidade dos peditórios do Baco Alimentar repugna-me ver o seu rosto e responsável defender o que defendeu. O que seria aliás do Banco e de Isabel Jonet se não houvesse muita gente disposta a ajudar com alimentos, com dinheiro e com tempo? Faria omeletes sem ovos?
    É claro que Jonet pode dizer o que quiser e como quiser, e de pensar o que quiser e como quiser. Mas só faltava que estivesse isenta de críticas e comentários, como de aplauso e de apoio. Em certo sentido até é bom que tenha dito o que disse. Ficamos mais esclarecidos. Quanto a escrutínio do Banco, confesso que nunca vi nenhum. Mas devo estar mal informado.

    • ppicoito diz:

      Fernando, e o que seria do Banco Alimentar sem Isabel Jonet? Não gosto de resumir o trabalho de uma instituição a uma pessoa, mas muitos dos que a atacam só o fazem porque detestam o seu trabalho. Um concorrente, como dizia alguém, no mercado da pobreza. Ela faz mais do que todos eles contra a pobreza e, portanto, fala com mais autoridade. É isso que não suportam.
      Escrutínio? Todo. Suponho que esteja previsto na lei. Mas quando dizes “escrutínio”, parece que o BA é suspeito de alguma coisa. Para além de ser suspeito de roubar aos diletantes o monopólio da solidariedade, o BA é suspeito exactamente de quê?

      • Mas afinal pode-se ou não se pode criticar e escrutinar? Eu não suspeito de nada. Mas não é por haver suspeitas que não deve haver escrutínio? Ou é? E o escrutínio de que falo, para que descanses, tem que ver, sobretudo, com a “filosofia” ou o “pensamento” sobre a questão da natureza da pobreza e do combate à dita por parte de quem “preside” ao Banco Alimentar. Quanto a Isabel Jonet, não me aquece nem me arrefece. Excepto aquilo que disse e como disse na conversa em causa na SIC-N. Tu gostaste? Eu não. E como eu, muita gente. Não podemos criticar? E criticar violentamente se acharmos necessário? Quem está a posição de Jonet está imune à crítica violenta? Porquê? Goza de imunidade? De impunidade? Não achas que já devia ter vindo dar alguns esclarecimentos sobre aquilo que disse? Pedir desculpas? Ou Isabel Jonet paira acima do comum dos mortais? Não tem responsabilidades? Não presta contas a todos aqueles que como tu ou eu colaboramos nos “peditórios” do Banco Alimentar? Era o que faltava. Eu sinto-me enganado por ter andado a colaborar – muito modesta mente, é certo – com uma instituição presidida por alguém que tem uma visão da pobreza e do combate à dita que está nos antípodas daquilo que eu não só penso, mas que, e sobretudo, me parece ser uma das causas da pobreza que temos no nosso país.
        Quanto ao facto de Isabel Jonet ser o Banco Alimentar e o Banco Alimentar ser Isabel Jonet, só te posso dizer que me assusta essa possibilidade Por boas razões (a competência de Isabel Jonet para reunir meios e vontades e redistribuí-los) e por más razões (os problemas “estruturais” do Banco Alimentar), sendo que esta percepção não se limita apenas a este caso concreto, mas a todas as situações em que os “líderes” se tornam imprescindíveis. Eu, por mim, prefiro boas instituições com maus líderes, que bons líderes em más instituições (deduzo que o Banco Alimentar seja uma instituição destas uma vez que pareces presumir que depois de Isabel Jonet o Banco Alimentar acabará… ou quase). E é tudo. Pelo menos para já.

      • João. diz:

        Isto é desonestidade intelectual à grande. Desonestidade essa que permeia os posts do Pedro sobre a matéria em pauta. Ninguém detesta o que o Banco Alimentar faz. O que alguns criticam é que o Banco Alimentar, o seu paradigma, substitua o Estado e a política na área da protecção social. Estas instituições podem ser um complemento o que não devem ser, a meu ver, é uma razão para o Estado e a política se desligarem do assunto.

  4. Jorg diz:

    Acha que é algo parecido com “alivio da pobreza” que ilumina os proseados “caminhos” dos peticionistas?
    Recordo uma historia, num lugar longe – uma laica missionaria, medica, ai chegou com a missao de “desenvolver e divulgar a contracepção”. Não foi a primeira – já lá estavam – mesmo nos maus momentos, anos de sombras fundas – padres e muitas freirinhas. A laica missionaria bramava contra esta fauna missionaria que encontrou – meninas sempre a engravidar, e a ser convencidas que tal era misto de pecado e da “vontade de Deus”, o que “perpetua a miseria que dá a justificação de ali existirem padres e tanta freirinha”. Tal dificultava, pois claro, o seu “trabalho”! Isto enquanto me recebia numa casa de tijolo, do tempo colonial, sentada numa cadeira de vime com almofadas de linhos provençais, acompanhado-me num cigarro, com frigorifico e gerador – a capital, longe pelas estado das estradas, assegurava o fornecimento do fuel – e filtros para a agua. Ofereceu-me Coca-Cola fresca, pois nunca gostei muito de cerveja. As freirinhas viviam em casas frageis, palhotas condensadas com lamas, umas madeiras mais alinhadas para criar umas divisões, janelas recortadas no fim da construção. Lavavam os bébés e limpavam a cara aos miudos, davam-lhes umas palmadas quando tiravam mais do que dois rebuçados do saco que lhes ofereci, admoestavam as meninas-mães sobre as tentações e poucas-vergonhas quando iam juntas buscar água a poços ou reservatorios, arrenegavam-se com os meninos-pais que não iam trabalhar, ameaçavam excomunhões divinas quando não queriam assumir paternidades. Eram o mais proximo de enfermeiras que estavam ao dispor da laica missionaria – até nos abortos, eram as tarefeiras que apareciam aos leitos das meninas, em improvisadas enfermarias, para por os panos frios na testa para baixar as febres, para se assegurar que tomavam os medicamentos como tinha dito a “Sra. Doutora”, e para rezar com elas. Depois do fim da missão – seis meses, ao serviço de uma ONG financiada pela ONU, e que lhe pagou ordenados da ONU – encontrei-a. Achava que tinha sido esforço inglório, pois que os padres e as freirinhas por lá continuavam aproveitando as suas caridades para subordinarem aquelas gentes autoctones aos dogmas da “vontade de Deus”…

    • ppicoito diz:

      Fernando, critica, escrutina, indigna-te, o que quiseres. o que já me parece uma falta de bom senso (no teu caso) ou de respeito pela liberdade alheia (no caso dos diletantes movidos a ideologia) é pôr em causa o mérito do Banco Alimentar só por causa de algumas declarações infelizes de Isabel Jonet. E não me parece que deva pedir desculpa. São opiniões. Não me agradam, mas não passam disso. Insulto são algumas coisas que lhe têm chamado e não te vejo muito indignado com isso.

      • Fica aqui a minha indignação pública relativamente aos insultos injustos e despropositados de que Isabel Jonet tem sido alvo. Fico agora à espera )sentado, é certo), de um comentário ao essencial: concordas ou não concordas com as palavras de Isabel Jonet que suscitaram toda esta polémica?

  5. caramelo diz:

    Há aqui um padrão. Quando eu era miúdo e vivíamos na baixa de Coimbra, via passar pela rua os miúdos da Casa do Gaiato a vender o jornal deles. Muitos não teriam mais do que dez, doze anos, franzinos, mal vestidos, e a minha mãe, como outras pessoas, comprava-lhes o jornal e levava-os a comer um pastel ao Nicola. Não eram meninos, mas sim, estatutariamente, os rapazes do gaiato, e eu só mais tarde me vim a aperceber da pequena ignominia que isto era, um pequeno ponto na bordadura na rede moral da época, de que ainda existem muitos vestígios. As pessoas condoíam-se deles, mas a poucos ocorria que esses meninos poderiam viver de forma diferente, e a muitos menos ocorreria criticar os padres que lhes davam teto. A alternativa àquilo, seria eles viverem na rua. A bitola era essa e servia também para os asilos, por exemplo, que eu também conheci na zona. Há uns anos, houve uma inspeção a pelo menos uma dessas casas, com base numa denúncia. Parece que ao Estado nunca tinha passado pela cabeça fazer isso oficiosamente, porque o país acordou espantado. Foram detetadas más práticas pedagógicas e maus tratos. Não sei qual foi o resultado disso.
    Ainda não cheguei lá, não é ainda isto que interessa aqui, a Isabel Jonet não é suspeita de más práticas de nada: Onde eu queria chegar é que, salvaguardas as diferenças, o discurso era o mesmo dos notáveis que foram em desagravo, o mesmo discurso dos dirigentes e seus superiores: aqueles padres dão o seu precioso tempo aos rapazes, fazem esse sacrifício, o estado abandonou-os, não tem direito a criticar, os particulares que criticam os padres da casa do gaiato, fizessem melhor, etc. Impressionou-me na altura a fala de um dos diretores e só isso, quanto mais não fosse, justificaria o seu afastamento: vocês não sabem como é difícil tratar desses rapazes, temos que ser duros com eles, isto são denúncias de rapazes que fugiram daqui, etc. Este discurso impiedoso sobre aqueles a quem se dá a caridade tem uma dimensão moral que não pode ser ignorada. É preciso não esquecer que a caridade não é só dar roupa e comida, é também dar conforto moral e psicológico. Sem isso, receber é um fardo que pode ser insuportável, e quem faz voluntariado sabe-o bem.
    Quanto ao argumento de que que a pessoa é insubstituível, mal irá o BA se não tem mais ninguém que tome conta dos seus destinos. Só neste país há insubstituíveis, esses entes providenciais. Aqui e na Índia, onde o dirigente de uma instituição de caridade criticou duramente a madre Teresa de Calcutá e quase era sacrificado, curiosamente pelo ocidente.
    Também gostava que fizessem inspeção ao BA. Numa sociedade decente não é preciso haver suspeitas para que isso se faça. Fazer isso por rotina faz parte das funções normais do Estado. Já se faz ou devia fazer, em todas as IPSS e nem os insubstituíveis estão isentos. As pessoas que dão têm direito a saber o destino dos bens que dão, como é gerida a casa, etc, e todo o país tem o direito de saber como são geridos os dinheiros do estado, se este financiar a instituição. De certeza que já houve inspecção. Resta só eu saber onde isso está publicado.

    • ppicoito diz:

      Se houver qualquer tipo de irregularidades no Banco Alimentar, incluindo a de não dar “conforto moral psicológico” às famílias que apoia, serei o primeiro a exigir que se feche a instituição e se enterre viva Isabel Jonet. Até lá, limito-me a defender o seu trabalho.

  6. ppicoito diz:

    Não, Fernando, não vais esperar sentado: não concordo com AS PALAVRAS de Isabel Jonet, por muitas razões que alguns já expuseram. Mas o essencial para mim, e é aqui que discordamos irremediavelmente, não é isso. É que outros, por causa das palavras, quiseram pôr em causa um trabalho extraordinariamente meritório de combate à pobreza por razões da mais baixa ideologia: porque não suportam que alguém faça na prática aquilo que eles apregoam na teoria, porque não suportam que a senhora seja católica e da classe errada, porque não suportam que seja a sociedade civil a fazer aquilo que o Estado devia fazer e não faz. Defendê-la é, portanto, defender a liberdade de não seguir a ideologia dos qua atacam, é defender a liberdade de intervenção pública dos católicos e da classe errada, é defender a liberdade da sociedade civil. Ao som de trombetas, o essencial é isto.

  7. ppicoito diz:

    João, a exist~encia de instituições como o Banco alimentar não é uma desculpa para o Estado fugir ao seu dever. Tenho a certeza que muitos dos que lá trabalham pensam o mesmo. Simplesmente, enquanto todos esperamos que o nosso querido Estado cumpra o seu dever, há gente que trabalha VOLUNTARIAMENTE para que muitas famílias tenham que comer. Uma dessas pessoas é Isabel Jonet. Pedir a sua demissão porque disse meia dúzia de frases que o irritam leva-me a pensar que, sim, há quem tenha aproveitado o pretexto porque detesta o Banco alimentar. Não sejamos ingénuos.

    • João. diz:

      Não concordo. Não penso que exista essa gente que detesta o Banco Alimentar como um meio de repassar alimentos que as pessoas queiram fornecer; o que alguma gente detesta, como é o meu caso, é quando o Banco Alimentar aparece como uma forma de despolitizar os mais pobres, tal como aconteceu, a meu ver, com o discurso da Isabel Jonet. Isabel Jonet tentou por os pobres no seu lugar, ela nem por um momento falou na importância da sua organização política para que tentem transformar os acontecimentos que reproduzem (e têm aumentado) a própria necessidade do Banco Alimentar.

  8. ppicoito diz:

    Também está a tentar pôr os pobres no seu lugar. o de serem politizados. Para si, os pobres são um meio para derrubar esta ordem social (injusta, dirá). Para si, os pobres são um meio para atingir um fim:a revolução. Para Isabel Jonet, são pesoas que têm fome, uma fome que ela tenta minorar sem a mediação da política. é essa a diferença. Permita que lhe diga que considero Isabel Jonet mais digna de defesa do que a sua revolução.

    • João. diz:

      Cinismo por cinismo, também posso dizer que a verdadeira finalidade da Isabel Jonet e os voluntários não é ajudar os pobres mas tentar evitar o mais possível que lhes venham bater directamente à porta.

      • ppicoito diz:

        Claro que pode dizer. ainda vivemos em democracia. O problema é que não é verdade.

      • João. diz:

        Claro, só o Pedro é que tem acesso aos recantos psíquicos dos outros – dos críticos de I. Jonet -, lá onde vislumbra directamente as intenções.

    • João. diz:

      E depois não há nenhuma razão para os pobres serem todos da mesma inclinação política, ou seja, para os pobres serem todos individualmente revolucionários, porém, na sua diversidade, eles são uma parte cada vez maior da nossa sociedade e, a meu ver, há mérito e pertinência em sua organização política que, por sua vez, não tem de ser nem forçada nem dirigida de fora, mas pode ser sugerida, impulsionada e concretizada – primeiro que tudo localmente, nas próprias comunidades onde vivem. Nada disto interfere com o trabalho do Banco Alimentar no que ele tem de essencial – destribuir alimentos.

  9. ppicoito diz:

    Soa bem. Mas no dia em que a revolução triunfar, a cabeça de Isabel Jonet será a primeira a rolar. A minha irá a seguir. E a sua, lamento dizer-lhe, terá o mesmo destino mais tarde ou mais cedo.

    • João. diz:

      Sim, este é o sintoma da coisa. Criticar Isabel Jonet e apoiar a politização dos pobres é igual a rolarem cabeças na guilhotina; é por isso que talvez elas, mutatis mutandi, talvez cheguem a rolar…ou seja, vai-se empurrando com a barriga até que talvez chegue ao ponto de levar um murro de que já não se recomponha.

  10. ppicoito diz:

    tem razão: chamar “recantos psíquicos” a algumas coisas que tenho lido é um excesso de generosidade.

  11. caramelo diz:

    Pedro Picoito, retomando, não é o Estado que inspeciona o “apoio moral e psicológico”, o tratar as pessoas como gente, somos nós todos. A pesporrência não é crime. E felizmente, suponho, os voluntários do BA não seguirão esse exemplo da sua diretora, ou a coisa estaria muito pior. Ninguém se atreverá a dar ralhetes sobre economia doméstica na cara de quem lá vai, do tipo “deviam ter comido menos bifes”. Isso faz a Isabel Jonet na televisão. Já vi quatro ou cinco vezes o vídeo, aquilo é hipnótico, de uma forma estranha. É como se ela de repente tivesse inventado uma linguagem, dando um peso às palavras que me é estranho: o temos de empobrecer, o bife todos os dias, etc. Temos de ter caridade para com ela, fazer um esforço de interpretação, sermos civilizados ao extremo, o que não é fácil.
    A questão não são as IPSS, não se critica a própria existência do BA, nem da Cáritas, ou outras. Diz-se outra coisa: o estado deveria tomar em mãos essa tarefa, porque concordamos todos que a caridade não é solução, é alternativa a uma falta do estado. O que se diz é que o BA não devia existir e acho que concordamos todos. A questão aqui é outra. Critica-se a insensibilidade e a ignorância da Jonet, porque também é de ignorância que se trata. A Isabel Jonet diz que esta politica de austeridade é um mal menor, enquanto o próprio FMI, esse funcionários de gabinete, jáá se aperceberam, como hoje vem nos jornais, que a austeridade pode tornar-se socialmente insustentável. Não vejo ninguém a criticar as palavras do presidente da Cáritas, que alertou contra as politicas de austeridade. O presidente da Cáritas está com isso a cumprir também uma função essencial perante quem a ela recorre e perante quem nos governa e essa dimensão escapa á Isabel Jonet. Espero que não escape a si.

    • ppicoito diz:

      Deixe cá ver se percebo: a Isabel Jonet, que há vinte anos se dedica à instituição de voluntariado que mais fez contra a pobreza em Portugal, é insensível e ignorante?
      E ainda a acusa de pesporrência?

      • caramelo diz:

        Está bem, Pedro. Avalie então você as palavras dela. Alguma razão terá para, como disse, não ter concordado com ela. Insensíbilidade não será, ignorância sobre a situação, também não, pesporrência, idem. Diga você.

  12. ppicoito diz:

    há três problemas no que ela disse. primeiro, há realmente miséria em Portugal, ou pobreza, ou o que se quiser chamar. Pode não ser como na Grécia, mas não deixa de existir e está a aumentar. Segundo, a generalização de que vivemos acima das nossas posses é injusta, porque muitos de nós nunca vivemos acima das nossas posses e porque, em parte, transfere a culpa dos erros políticos dos últimos anos, incluindo os deste este Governo, para a maioria da população. Terceiro: a pobreza, pelo menos esta pobreza generalizada, não é uma fatalidade e não devemos resignar-nos a ela, nem sequer em nome da famosa competitividade. O discurso de empobrecimento necessário, nas mãos de políticos pouco escrupolosos como Relvas, Passos e Portas, pode ter efeitos perversíssimos, como estamos a ver.
    é isto. Chega para insultar a senhora e pedir a sua demissão? Não, não e não.

    • Clap, clap. Para insultar, não. Para pedir a demissão, sim. Embora o pedido de demissão seja, em muitos casos, sobretudo a manifestação pública de uma enorme indignação por aquilo que foi dito e como foi dito. Por isso não vejo razão para que se andem a rasgar vestes por causa de tal pedido (que, aliás, subscrevo, embora saiba que não se vai verificar até porque, para o bem e para o mal, Isabel Jonet pensa, ou pensava, estar acima do escrutínio da opinião pública). Por outro lado, e muito embora o seu trabalho seja meritório, seria bom termos presente que muitas vezes gente com currículo tão ou mais virtuoso, nesta área ou outras afins, sai pela porta pequena por causa de disparates aparentemente inofensivos.

      • ppicoito diz:

        Talvez, mas suponho que estejas a falar do sector público, que tem de responder perante todos nós. Com a sociedade civil é, e deve ser, diferente. E num país que tem ministros como Relvas, francamente, devíamos agradecer de mãos postas a Nossa senhora de Fátima ter-nos dado uma Isabel Jonet.

    • zelisonda diz:

      Chega na exacta medida em que a senhora por ter aquele ar de pertença a uma casta é profusamente odiada pela esquerda dos “amanhas que cantam”, que rangia os dentes de raiva pelo sucesso do BA. De resto a insensatez e vilania dos ataques pessoais são bem descritos no post do L.M.Jorge

    • caramelo diz:

      É?… Pois. Acaba por dar no mesmo, não é, Pedro? Mas é como eu digo: é preciso usar de alguma caridade para com a senhora. Nestes tempos, temos que ser poupadinhos até nas palavras. Conseguiu dizer isso tudo sem usar a palavra “ignorância”, ou sequer “desconhecimento” e não tirar daí nenhuma ilação sobre a sua sensibilidade. Eu também não quero que a ofendam (e a petição para a sua saída é só mais uma forma de protesto, como sabe), mas posso pelo menos espantar-me por uma pessoa que há vinte anos está à frente da maior instituição de solidariedade social (as outras estão mesmo todas em via de se eclipsarem) estar tão, como dizer para não ofender… tão pouco a par dessa realidade?

      • ppicoito diz:

        Não, não dá no mesmo. Isabel Jonet conhece melhor a pobreza do que eu e combate-a mais do que eu. Eu diria que aquilo que entende por pobreza (ou miséria) é mais limitado do que aquilo que eu entendo pela palavra. E as soluções políticas para o problema são certamente diferentes. Discordando, não ponho porém em causa a sua sensibilidade e o seu conhecimento da pobreza. é essa a diferença em relação aos seus comentários e aos de tantos outros.

  13. caramelo diz:

    Caramba, ela não só é insubstituivel no cargo, como começa já a sugar à sua volta a definição de pobreza, tornando relativo e irrelevante o que os outros pensam. Pareceu-me um pouco mais assertivo no outro comentário, Pedro, apesar de tudo. Mas como está só a falar por si, não há problema. Há muitos mais que continuam a saber do assunto.

  14. Cardeal Pau de Cerejeira diz:

    Parabéns sua excelência sr. dr. Picoito. Belo post.
    Assim se vão dourando as auroras e os amanhãs resplandecentes.

    (alguém que passa a vida a escrever posts manda os outros fazerem qualquer coisa em vez de posts. Magnífico!)

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