O relatório do FMI “deve ser discutido”?

Não, não deve. O “relatório” não é um documento técnico, é uma posição negocial. Mais exactamente, é aquilo a que em negociação se chama uma “proposta escandalosa” — serve apenas para definir uma plataforma que dá vantagens ridículas a quem inicia a conversa. Qualquer tipo que perceba destas merdas sabe que a uma “proposta escandalosa” se responde com outra: por exemplo, diminuir para um décimo o ordenado dos políticos, nacionalizar a banca, etc. Não existe outra estratégia razoável até que o interlocutor aceite partir de uma base honesta para a negociação. Só um chico-esperto propõe um “documento” daqueles. Só um pobre de espírito aceita “discutir” um documento daqueles. Há muita gente de direita que sabe isto tão bem como eu e devia ter vergonha, mas não tem. Pobre do partido, pobre do país que entrar no “debate”.

Luis M. Jorge

21 thoughts on “O relatório do FMI “deve ser discutido”?

  1. A nacionalização da banca parece-me uma ideia muito interessante e um bom contraponto de partida para a discussão do relatório político do governo que por motivo que me escapa é referido como do FMI. Será por o Carlos Moedas o ter escrito logo em inglês para facilitar o trabalho de eventuais consultores internacionais?

  2. Acompanho-te no que escreves sobre o conteúdo do relatório, Luís. Mas actuar como defendes é, em si mesmo, participar no debate, e não poderá ser de outra forma.

  3. Por exemplo, eu considero este texto (http://daliteratura.blogspot.pt/2013/01/citacao-430.html) de Pedro Laíns oportuno e não deixa de ser uma participação no debate.

  4. E não se deve desligar o conteúdo do “report” do modo como ele nos apareceu… O modo como aparece (manifestação de um modus operandi do governo da Pátria) é politicamente significativo e tem de ser tido em conta na apreciação política que se faça do próprio “report”.
    Ainda que o “report” fosse “meramente técnico” (seja isso o que for), ele está sendo usado politicamente pela gente governante.

    • Sim, com o Marques Mendes a fazer de oráculo. Coisa ridículça.

      • João Pereira da Silva diz:

        Luis M. Jorge,

        Gosto muito de o ler e considero-o um dos bloggers mais inteligentes entre os que vou lendo à esquerda. Parabéns e continuação de bons textos. Tudo de bom.

        Contudo, a ver vamos se o relatório vai ou não ser discutido, ser ou não a base de programa para o próximo governo (se houver eleições antecipadas) seja este PSD ou PS.

        Por favor, a bem da qualidade da sua escrita, não leia tanto o Pedro Lains ou o João Pinto e Castro. Não são boas fontes de pensamento com qualidade para formar boa opinião.

        Obrigado pelos seus textos.

      • Os imbecis querem propor uma comissão de “reforma do Estado” para obterem conclusões até Fevereiro. Esta canalha não vale um caracol.

  5. João Pereira da Silva diz:

    Como disse?

  6. João Pereira da Silva diz:

    Eis a sua “não discussão” em síntese:

    Argentinando

  7. Jorg diz:

    Qual é a (ou uma) “base honesta de discussão”? O que percebo é que existe demasiada vontade de “não” discutir – permanecer abaixo da linha de radar.
    É assim, em conclusão – este governo vai cair, e se tivermos sorte, por boas razões – a de discutir “novas” reformas que (supostamente!) não foram sufragadas. E porque a “discussão” necessita de ‘contrapontos’, de ‘oposição’.. E tal não existiu, por falta de comparência, com fuga para a bancada para poder gritar desalmadamente “crechimento, europa, equidade, o Estado a financiar-se directamente junto do BCE – é mais sintético que nacionalizar a banca” e por ai fora. Ou ainda “aldrabice” como ontem opinava o alcaide Costa. Ou como JPP que teorizava sobre estética e aerodinâmica – que, sem desprezo, podem contribuir para ‘eficiência’- mas quem tem a mão na massa percebe que o problema premente é mesmo da mecânica – parafusos, ineficiente uso de combustivel, etc.

    Não reconheço ao Governo, e ao Dr. Moedas, aqueles talentos de embalo comunicacional do tempo da socretinada – são trôpegos, e desajeitados.
    Tão pouco se aceita ‘prima facie’ o “relatório” – mas vejo, mesmo que de forma brutal, que se põe nomes aos bois quando se exigia “corte na despesa” – uma das componentes embebidas na multipla criticas martelada ao recente OE e ao seu ‘brutal aumento de impostos’..

    • caramelo diz:

      Eu já ando a ouvir essa das dificuldades comunicacionais do governo há quase dois anos, portanto, aquilo deve ser mesmo uma forma de paralisia cerebral. E a oposição fugiu para a bancada? Mas o PSD e o CDS não foram eleitos para o governo? Não têm a maioria? Então governem. Eles não só querem o colinho da oposição, como um amplo consenso social que vai da quinta da marinha aos sem abrigo. Querem mesmo um debate civilizado sobre aquela coisa com as centenas de milhares de pessoas que são ali visadas? Devem estar todos a brincar, não?

  8. Medeiros Ferreira:

    “Este governo deve ser afastado antes que seja tarde. Estou a dirigir-me aos partidos da coligação.”

    Quem avisa…

  9. henedina diz:

    Reduzir o nº de deputados.
    Reduzir os impostos para ter mais receitas (vai haver aumento de economia paralela).
    Não permitir, em nenhuma circunstancia que uma reforma seja mais de 5000 euros.
    Não permitir, em nenhuma circunstancia que ordenados acumulados sejam maiores que 10000 no estado. (ou seja se já tiver no privado mais não recebe no estado), sera serviço publico.
    Durante 10 anos se teve em chefia não pode ir para conselhos de administração de empresas.
    Acabar com o segredo bancario.
    Acabar com a ADSE e outros subsistemas de saude.
    Retirar comparticipação em todos os medicamentos anti-tussicos, expectorantes “remedios para a tosse”.
    (propostas sensatas)
    Concordo que deviam ser tão parvas qto a deles…se for para frente, realmente dou razão ao PPC, só nos resta emigrar ou retirar de vez Portugal do euro.

  10. XisPto diz:

    Um post absolutamente tributário do tribalismo político/partidário vigente, ou o triunfo do BE em toda a linha, ou ainda, como me estou nas tintas para o país ter que chamar o FMI de dez em dez anos, não para entregar aldrabices de estudos, mas para nos financiar o défice que outros já não aceitam fazer.

  11. Vicente diz:

    Eu discordo, penso que deve ser discutido, por muitas falhas e erros que tenha e mm que ja ñ seja este governo,como acredito, a fazer a reforma do estado.
    Aqui o Pedro Pita Barros a 2 boas análises ao relatório, na saúde e nas pensões
    http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO090922.html?page=0
    http://momentoseconomicos.wordpress.com/2013/01/11/o-quente-relatorio-do-fmi-saude/

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