Era uma vez um país que o herdou do salazarismo e este por sua vez resgatara-o à anarquia: o Estado-Rei ( de Lisboa). Os dinheiros europeus funcionaram à calabresa : por cada estrada necessária, 25% para empreiteiros, advogados e partidos.
Depois as pessoas quiseram mais e a bebedeira da dívida bateu forte. Decantámos eleiçoes, mais obras, mais dívida, O sistema foi napolitano: por cada autoestrada para os enterrados nas serranias, 25 % para ex-comunistas convertidos, ex-vendedores de pano a metro, etc. As grandes sociedades de advogados ( até as que eram pequenas antes de os seus sócios passarem por S.Bento) adoravam o Estado, os governos e o parlamento: era preciso passar tudo a papel em letra miúda.
Andávamos nós como a Marlene no arame quando o estrangeiro se desequilibrou. Um grupo de profissionais da alcatifa e da carne assada aproveitou o tombo do neofilósofo e prometeu o leite e o mel. Mal se apanharam na coelheira , entregaram o país aos credores.
Aqui chegados, a histeria , como sempre, fez-se lei. Arraial, Arraial, que matam o Estado Social!/ Arraial , Arraial, que outros fizeram o mal! O que fazer?
Não sei, mas a um partido novo prefiro Ruy Belo:
Quando o último pássaro morrer
na última oliveira a ocidente
opõe o peito ao que acontecer
e levanta a cabeça dignamente.
FNV
Também eu, caro Filipe. Também eu.
Mas noutro tom.
“Mas agora que cantei da tristeza
não observo já os mais leves traços
e a minha maneira de me matar
é deixar cair ambos os braços”
Um abraço amigo, tipo Duarte Gomes
É também uma das minhas devoções – o Ruy Belo, entenda-se. “Está tudo muito certo mas a gata / que outro mundo terá a gata que morreu?” – mas também, e não a despropósito do tema do Filipe: “pois a areia cresceu e a gente em vão requer / curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia”.
Abraço bilingue
msp
Sim, mas também “é triste no outono concluir / que era o verão a única estação / passou o solidário vento e não o conhecemos / e não soubemos ir até ao fim da verdura / como rios que sabem onde encontrar o mar”
“Quando o último pássaro morrer
na última oliveira a ocidente
opõe o peito ao que acontecer
e levanta a cabeça dignamente.”
Que engraçado este é a minha citação preferida de Ruy Belo. Pus no meu perfil.
Um pouco mais optimista, porque dignidade é não só a força ultima em cada um de nós,
mas também âncora para não cair em derivas de desesperança
“Though much is taken, much abides; and though
We are not now that strength which in old days
Moved earth and heaven; that which we are, we are;
One equal temper of heroic hearts,
Made weak by time and fate, but strong in will
To strive, to seek, to find, and not to yield”
(A. Tennyson,”Ulysses”)